sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Conferência de Ken Robinson: Escolas matam a criatividade? (parte 1/2)

Para todos os educadores...

A Onda (The Wave 1981): Parte 1

A 1ª parte de um filme genial que não devem perder. Há mais episódios no Youtube também legendados em português.
Este filme mostra os perigos de movimentos que apelam à disciplina e aos sentimentos de comunidade e orgulho.
Este ano foi filmada uma nova versão 'Die Welle' de Dennis Gansel. Ainda não vi, mas fica aqui a sugestão. Ouvi dizer que era um bom filme.

"LAND OF CONTRAST" - promotion clip for Mozambique's tourism industry


© "LAND OF CONTRAST" by SONCA international

Mozambique's claim “Land of contrast” is visualized in the form of surprising and unseen images of the two only Mozambican opera singers - Stella Mendonça & Sonia Mocumbi, accompanied by 53 members of the French Symphonic Orchestra of Pontarlier in the “National Park of Limpopo” and in harmony with Mozambique's nature and wild life.

domingo, 30 de novembro de 2008

Amigos - Vinícius de Moraes

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor; eis que permite que o objecto dela se divida em outros afectos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências.
A alguns deles não procuro; basta-me saber que eles existem; esta mera condição, me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo!
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece, é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.

Vinícius de Moraes

sábado, 29 de novembro de 2008

Poema de Rui Knopfli

Não faço o que quero
faço o que posso.
E o que posso passa
pelo passo da dificuldade.

Palavras tenho poucas,
duras, despidas estacas,
complicando a minha escolha.

Ermas e perfiladas
ergo-as ao sol na vertical
e são monótonas e dão sombra.

Com elas levanto quatro nuas
paredes, um tecto em forma
de prece. Dificilmente
construo uma casa fácil

Fácil é fazer difícil,
difícil fazer o fácil.


Rui Manuel Correia Knopfli (Inhambane, 10 de Agosto de 1932 - Lisboa, 1997) foi um poeta, jornalista, crítico literário e de cinema.
Fez os seus estudos na África do Sul e iniciou uma muito activa carreira na então cidade de Lourenço Marques, actual Maputo.
Deixou Moçambique em 1975. Tinha uma alma assumidamente africana. Colaborou em vários jornais e revistas e publicou alguns livros. Desempenhou funções de adido cultural na Embaixada Portuguesa em Londres.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Democracia em Africa - Angola, por João Melo

O autoritarismo e o défice de cultura democrática não é uma questão deste ou daquele partido. Por isso, entre a classe política nacional, praticamente todos têm uma origem ideológica autoritária.

O papel definidor e estruturante da crítica na edificação da democracia é óbvio. No entanto, em Angola, é preciso reafirmá-lo sistematicamente, até “naturalizá-lo”, pois ainda estamos numa fase de transição para a democracia.
Como tenho afirmado várias vezes em público, o autoritarismo é um traço horizontal da sociedade angolana (a rigor, começa em casa). O autoritarismo angolano tem uma tripla origem: a cultura tradicional, de base rural e onde o indíviduo se deve submeter à comunidade; o colonial-fascismo português; e o modelo marxista-leninista adoptado nos primeiros 16 anos de independência. Daí resulta uma “salada autoritária” que é necessário desconstruir com realismo, inteligência e persistência.
Quer dizer, o autoritarismo e o défice de cultura democrática não é uma questão deste ou daquele partido. Por isso, entre a classe política nacional, praticamente todos têm uma origem ideológica (no mínimo, ou seja, para não falar da praxis) autoritária, quer de direita quer de esquerda. Pela parte que me cabe, não desminto nem escamoteio a minha matriz.
Assim sendo, o discurso da UNITA, por exemplo, segundo o qual a democracia angolana se deve à guerra que ela fez desde a independência é irredutivelmente contrariado pelo facto de, em 1992, não ter aceite a sua derrota nas urnas e optado por retomar o conflito armado. Essa decisão demonstrou que a UNITA não lutava pela democracia, mas simplesmente pelo poder.
A retória democrática de muitos partidos da “oposição civil”, como eram designados até 2002, também não é suficiente para ocultar o ranço autoritário que espreita por detrás da mesma. O negativismo sistemático, o vanguardismo e a arrogância política e intelectual aí estão para demonstrá-lo.
Até entre os líderes da chamada sociedade civil é possível identificar manifestações dessa falta de cultura democrática. Para dar apenas um exemplo, cito a declaração de uma activista social, perturbada com o recente resultado eleitoral, que afirmou que, agora, a sociedade civil deveria assumir o papel da oposição (sic), como se os mais de cinco milhões de angolanos que votaram no MPLA pertencessem a qualquer sociedade “extra-terrestre”.
Dito isto, a conclusão só pode ser uma: a construção de uma sociedade genuinamente democrática em Angola implica, antes de mais nada, que todos os actores políticos e sociais tenham a humildade de reconhecer a sua origem político-ideológica. Isso parece-me fundamental para que o discurso democrático, hoje tornado uma unanimidade política nacional, possa ser convertido em prática diária, a todos os níveis.
Atendo-me exclusivamente à democracia política, é impossível resistir a outra obviedade: esta última precisa, desde logo, de partidos democráticos. Como partido maioritário, o MPLA tem, nesse sentido, responsabilidades acrescidas.
Os seus estatutos, aprovados em 2005, garantem-no plenamente, não só interna, como também externamente. Com efeito, os mesmos começam por assegurar expressamente a “liberdade de discussão, tolerância e reconhecimento e aceitação do pluralismo de opiniões no seio do partido”. Além disso, admitem e reconhecem a existência de correntes de opinião, assim como o direito destas últimas à sua eventual “manifestação pública ou interna”. Por maioria de razão, o mesmo acontece com as vozes rigorosamente pessoais (mas talvez não individuais).
Há muito que eu defendo que certas opiniões não devem ser pronunciadas apenas nos chamados “canais próprios”. É certo que a crítica pública às instituições (e as sugestões também, é claro), quando feita por membros dessas mesmas instituições, tem sempre os seus condicionalismos e limites, desde logo estatutários. Assim mesmo, contudo, pode ser de grande importância e utilidade para certas mudanças e correcções de rumo. A experiência mostra que as organizações mudam mais fácil e rapidamente sob pressão externa do que interna.
Um interessante tema de pesquisa para a sociologia política poderia ser verificar que outro partido angolano, além do MPLA, admite estatutariamente a manifestação pública de opiniões diferentes e críticas. A verdade é que não tenho apreciado isso em nenhum outro. Esse compromisso com o aprofundamento da democracia, quer interna quer externa, foi – que ninguém duvide – um dos factores que contribuíu para o tamanho da recente vitória eleitoral do MPLA.

*João Melo, jornalista e escritor angolano, é diretor da Revista África21 e assina coluna no Jornal de Angola

domingo, 23 de novembro de 2008

manuale d'amore 1

Um filme que vale a pena ver. Bonito.



Aqui a tragédia e a alegria co-existem. O primeiro encontro, o primeiro beijo, o sexo, a coabitação, o casamento, o divórcio...

Gabriel, O Pensador - Racismo É Burrice (MTV ao vivo)

Uma música que vale a pena ouvir. Não é só no Brasil.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Polémica: Chocar ou Confrontar ?




A caveira 'Pelo amor de Deus' criada pelo artista inglês Damien Hirst está patente ao público Rijskmuseum de Amsterdão até ao dia 15 deDezembro.
Trata-se da peça de arte moderna mais cara do mundo. Com os seus 8.601 diamantes (num total de 1.106,18 quilates), avaliados em 18 milhões de euros, a escultura causou sensação e polémica desde a sua apresentação em Londres no ano passado.
Hirst explicou, quando apresentou a peça, que "Pelo amor de Deus" pretende ser "a vitória definitiva sobre a morte ".
Para mim uma obra de arte deste género cria um certo mal estar. Primeiro, porque se pretende ser a 'vitória definitiva sobre a morte' é 'a derrota definitiva sobre a vida', sobre os direitos humanos (Stop Trade in conflit diamonds), etc. Oiçam a música de Paul Simon 'Diamonds on the soles of her shoes'. Segundo porque impressiona o mau gosto, a falta de ética, etc. Parece que nos querem chocar, anestesiar. Sou confrontada todos os dias com os reclames desta obra de arte que estão espalhados por todas as estações de comboios aqui na Holanda.
Digam o que sentem ao ver esta craveira.

Vi um filme-documentário, FOREVER de Hedd Honigmann. Aí, a arte e a poesia vencem a morte. Aí o amor vence a morte. Passa-se no cemitério de Père-Lachaise em Paris. E faz-nos pensar no legado deixado por artistas e escritores (Chopin, Marcel Proust, Jim Morrison e Modigliani) e outros cidadãos comuns, tornarando-os imortáis.

Ainda sobre a morte, gostei de uma exposição que vi no Tate Modern em Londres, de um artista brasileiro, Cildo Meireles. Uma das peças 'Missão/Missões' trata da relação da igreja com a morte /a imortalidade.

Missão/Missões: faz alusão à morte de índios sul-americanos nas missões católicas, entre 1610 e 1767. Um tapete de 600 mil moedas de 1 centavo, 800 hóstias e 2 mil ossos de vaca que alcançam o tecto.


The Atlas of Real World




O mapa do mundo visto de outra forma. http://www.worldmapper.org/

É um endereço interessante pois cada país é medido a partir dum assunto específico. O mapa ao lado é o mapa da pobreza do mundo. São cerca de 600 mapas sobre assuntos tão diversos como o número de pessoas infectadas pelo virus da SIDA, os principais destinos turísticos, os principais países exportadores de petróleo, etc.

sábado, 15 de novembro de 2008

E se Obama fosse africano? - Mia Couto

E se Obama fosse africano? - Mia Couto

Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: " E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores. Inconclusivas conclusões.
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Consciência Individual

"A consciência individual, no nosso tempo, é anulada por uma quantidade enorme de informação empacotada, cujo objectivo é produzir uma passividade colectiva, aquiescente e inquestionada". Edward W.Said (1935-2003), escritor e ensaísta de origem palestiniana.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

The Story of Stuff - Cap 1 a 4, em Português

Vale a pena reflectir. Há mais capitulos no Youtube.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Poema 'O mundo que te ofereço amiga' e uma entrevista - Jorge Rebelo

"O mundo que te ofereço, amiga"

O mundo que te ofereço, amiga,
tem a beleza de um sonho construído.

Aqui os homens são crentes -
não em deuses e outras coisas sem sentido
mas em verdades puras e belas,
tão belas e tão universais,
que eles aceitam
morrer
para que elas vivam.

É esta crença, são estas verdades
que tenho
para te ofertar.

Aqui a ternura não nasce
nas alcovas.
É uma ternura rude, violenta, amarga
nascida na dureza áspera da luta
em caminhadas longas
em dias de espera.

É esta ternura rude e amarga
que tenho
para te ofertar.

Aqui não crescem rosas coloridas.
O peso das botas apagou as flores pelos caminhos.
Aqui cresce milho, mandioca
que o esforço dos homens fez nascer
na previsão da fome.

É esta ausência de rosas,
este esforço, esta fome
que tenho
para te ofertar.

Aqui as crianças não envelhecem,
o seu riso é eterno,
brincam com o sol, com o vento,
com a chuva e os gafanhotos,
com espingardas verdadeiras,
com pedaços de granadas.

É este riso eterno de criança, este sol,
estas espingardas verdadeiras
(com as quais também brinquei)
que eu tenho
para te ofertar.

O mundo em que combato
tem a beleza de um sonho construído.

É este combate, amiga, este sonho
que tenho
para te ofertar.

Jorge Rebelo

Este poema foi escrito durante a guerra de libertação.

Uma entevista controversial. Façam o douwload aqui

Ilegais na Holanda tratados como criminosos

A Holanda viola cada vez mais os direitos humanos de estrangeiros ilegais e refugiados. É o que conclui a Anistia Internacional com base numa pesquisa feita nos centros de detenção holandeses. Imigrantes sem documentos ficam, às vezes, presos à espera de sua expulsão e denunciam o uso de violência nas prisões. Isso ocorre apesar de não ser crime permanecer ilegalmente na Holanda.
Saskia van Reenen*
08-07-2008
Para ler na integra clique aqui

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Xenofobia e racismo versus Globalização


Clique 2x no lado esquerdo do rato para ampliar a imagem.

É impressionante mas parece que o apartheid voltou a vigorar. Agora de uma forma mais sofisticada, mais globalizada. Depois dos últimos acontecimentos na África do Sul recebi um mail com o recorte de jornal aqui anexado. Será que não se apreende com a história, com os erros cometidos no passado?

Mas gostava de vos contar como se vive na 'minha' aldeia. Deve ser parecido com muitos outros sítios, mas há sempre algumas diferenças.
Aqui na Holanda, exigem a um estrangeiro que venha para cá viver que apreenda a língua e a cultura holandesa. À primeira vista, não há nada de errado, mas o que se passa é que não exigem isso a todos, e os critérios são pouco claros. Por exemplo, um engenheiro é recrutado pela Shell na Índia para vir trabalhar na Holanda. Sabe que a língua oficial dentro da empresa é o inglês. Ao fim de 10 anos, a autarquia envia uma carta a esse engenheiro a dizer que este deve apresentar documentos comprovativos de que sabe falar holandês e que conhece a cultura holandesa.
Cultura holandesa? Como é que se define esta cultura holandesa? Há culturas dominantes e sub-culturas? Há culturas 'melhores' e 'piores' (maiorias e minorias, autóctones e alóctones)? Ou há um certo relativismo cultural? Quais são os usos e costumes? Valores ocidentais como Igualdade, Liberdade e Fraternidade? Individualismo? Tradições? Numa altura em que se fala (correctamente de política - politiamente correcto) de multiculturalismo e diversidade ética, não percebo bem aonde se pretende chegar.
Com um funcionário de uma embaixada já não se passa o mesmo. Estão isentos, não precisam de apresentar documentos nenhuns.
Por outro lado, para os refúgiados económicos e noivas importadas estes cursos são mais sofisticados: tem de prestar provas nas embaixadas da Holanda em Marrocos ou na Turquia.
Os cidadãos da UE não têm de prestar provas: são cidadãos que tem o direito de circular livremente.
Segundo a Human Rights Watch, este teste de integração foi criado para limitar a imigração e não para fomentar a integração. A Human Rights Watch quer que o exame de integração no estrangeiro seja abolido.

O que se passa, é que nos anos 60 vieram para cá viver muitos marroquinos e turcos. Nessa altura, eles vinham para trabalhar na reconstrução do país e nunca ninguém se preocupou com a integração deste grupo de imigrantes. Eram mão-de-obra barata para fábricas e para a construção civil. Hoje vivem em ghettos. A maioria é analfabeta e não sabe nem ler nem escrever. Ajudaram a reconstruir este país e hoje são as ovelhas ranhosas desta sociedade.
O que me parece, é que há uma preocupação excessiva com os estrangeiros, misturada com uma certa arrogância e xenofobismo. Para quem ouve as notícias parece que o problema desta terra são os imigrantes (cerca de 9% da população).
Daí que tenham sido criados partidos políticos como o Partij van Wilders, contra a Islamitizaçâo da sociedade holandesa, e Trots op Nederland 'Orgulhosos da Holanda'. O filosofo Britânico Michael Kenny escreveu um livro The Politics of Identity e comenta que neste tipo de política, falta ideologia.
O que foi feito aos ideais? Vivemos numa aldeia global ou será que as fronteiras económicas impedem-nos de sermos cidadãos do mundo?

Um filme lindo - The Way Home - Jibeuro


Sang-woo (Yu) é levado pela mãe (Dong), da capital, Seul, para a casa da avó (Kim), situada numa aldeia isolada no campo, constituída por meia dúzia de casas, afastadas umas das outras. Song-woo, de 7 anos, aborrece-se com a vida no campo, principalmente depois de acabarem as baterias do jogo electrónico portátil. A septuagenária é muda, pelo que a comunicação com a criança – que vê então pela primeira vez – é redobradamente complicada. Mas ela mostra-se muito paciente face ao comportamento abusivo e desrespeitador do neto, que terá de tentar suportar enquanto a mãe procura emprego na cidade.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Prémio Goldman de Meio Ambiente de 2008 - Moçambique

Soube hoje deste prémio. É um tipo de música de intervenção e com repercussões positivas. Se souberem doutros exemplos de Moçambique que valha a pena conhecer deixem aqui o vosso comentário.


Capacitação através da música
Usando a música para difundir a mensagem de saneamento ecológico nas partes mais remotas de Moçambique, Feliciano dos Santos habilita os habitantes das aldeias a participar do desenvolvimento sustentável e deixar a pobreza para trás. Na província do Niassa, muitas aldeias não contam nem mesmo com uma infraestrutura de saneamento básico. Sem acesso confiável a sistemas de fornecimento de água limpa e tratamento de dejectos, a população está altamente sujeita a enfermidades.


Santos, que cresceu na região, é hoje o líder de um programa inovador que está a trazer esperança renovada ao Niassa. Com a sua banda, Massukos, reconhecida internacionalmente, Santos utiliza a música para divulgar a importância da água e do saneamento em Moçambique. Actualmente, o seu programa serve de modelo para outros programas de desenvolvimento sustentável em todo o mundo.



Massukos, a banda de Santos, incorpora a mensagem do saneamento à música, realizando apresentações em aldeias em todo o Niassa e, ocasionalmente, em outras partes de Moçambique e também no exterior. Desde que Santos iniciou o seu programa comunitário através da música, pessoas em todo o Niassa e Moçambique começaram a prestar mais atenção aos problemas de saneamento rural do país. Ao incorporar as ricas tradições de espectáculo do Moçambique, Santos e ESTAMOS (associação comunitária) conseguem estabelecer uma ligação com os habitantes das aldeias de maneira culturalmente apropriada, através da música e do teatro. Quando Santos e a sua banda chegam a uma aldeia no Niassa, toda a população local amiúde aparece para ouvir a sua música e a sua mensagem. A música, porém, não é a única razão do sucesso da ESTAMOS. Em Julho de 2007, Massukos foi à Inglaterra para o lançamento do álbum “Bumping” e apresentou-se no World of Music, Arts and Dance (WOMAD), o festival internacional de renome de música, arte e dança.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Poesia - Não te amo - Almeida Garrett

Ontem à noite, falei com a Mª Fenanda àceca do filme 'Lady Chatterley'. E a propósito do filme, ela referiu-se a este poema.

Já que o amor é, antes de mais, algo que se sente, como é que a gente o começa a sentir ? Será que tem de haver dialogo ou o amor não precisa de palavras ? O amor não é o que queremos sentir, mas o que sentimos sem querer ? Quem nos guia é o coração ou é a cabeça ? Gostava de saber o que sentem ou pensam. Não o amor na teoria mas na prática, pois varia muito segundo a concepção individual de cada um.


Não te amo

Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma.
E eu n'alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.


Almeida Garrett (04.02. 1799 - 09.12. 1854)



sexta-feira, 4 de abril de 2008

Amor & Fadas do lar

Depois de ter escrito sobre o ‘Elogio ao amor’ e ‘Sexo versus pornografia’ surgiram comentários: amor, eterno ou não?; porque é que já não se acredita que o amor possa durar a vida inteira?

Pensei: Porque é que aparentemente o amor durava mais antigamente?

No amor, o mistério desaparece à medida que a intimidade progride. Para durar, deve ser cuidado e cultivado.

Pensando em termos de antes e depois, noto o seguinte:

As pessoas casam-se menos, divorciam-se mais. O próprio sistema jurídico, nas sociedades ocidentais, facilita o divórcio. É mas fácil descartar (aliás, como tudo o resto numa sociedade de consumo). Os factores sociológicos e económicos que contribuem para este fenómeno, são a secularização da sociedade (as pessoas já não estão juntas até que a morte os separe) e a independência económica da mulher.

Históricamente, quando as pessoas começaram a fixar-se, os homens iam à caça enquanto as mulheres cultivavam a terra. Com a industrialização, os conflitos entre os homens e mulheres aumentaram. E porquê?

Porque as mulheres apreenderam a pensar mais nelas (já não são domésticas e muito menos fadas do lar!). Os homens (salvo raras excepções) não deixaram de pensar só neles.

Nas sociedades onde os valores individuais são mais fortes que os valores colectivos, ‘o outro’ perde um pouco o significado. Vivemos centrados em nós (eu, comigo e para mim), e sabemos que não podemos apoiarmo-nos nos outros. E aí começa o ciclo vicioso e a desarmonia. Vivemos sós.

No entanto, penso que as mulheres têm vivências mais colectivistas.

Enquanto, os homens deixam as mulheres sozinhas com os filhos e vão para a tasca, para o campo de futebol, etc., as mulheres olham para as necessidades dos filhos, marido, família e comunidade. As mulheres são o pilar das sociedades, trabalham como escravas e são mal pagas. Dum modo geral, são elas que conciliam o trabalho de casa com o emprego. E para dificultar a vida, as mulheres estão mal representadas a nível dos órgãos decisivos.

Nota: Concordo com o Prémio Nobel da Economia de 2006, Muhammad Yunus, que dizia numa entrevista conceder de preferência um microcrédito a uma mulher do que a um homem, porque as mulheres pensavam mais nos outros do que nelas próprias. Não gastam dinheiro com elas mas com a educação dos filhos etc.

Resolvi ilustrar esta mensagem com uma peça da escultora Joana Vasconcelos. Ela tem uma noção de expressão artística muito feminina: aproveitar coisas vulgares para fazer coisas extraordinárias! Esta escultura chama-se Cinderela tem 5 metros de altura. É feita com tampas e panelas. Será que uma Cinderela resolveu polir estas panelas todas, ou é apenas reflexo da luz? Esta foto foi tirada no verão, nos jardins do Palácio de Belém. Os holandeses poderiam chamar keukenprinces, isto é, princesa da cozinha.

 

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Juno - Trailer legendado

Este filme foi recomendado pela João neste blog (ver Lady Chatterley). Ela é a minha agente cultural e por isso resolvi procurar mais informações e voilá! Espero que seja um bom aperitivo cinematográfico, para quem ainda não viu este filme. Fica aqui um desafio (tanto para os pais e como para os filhos): deixem aqui o vosso comentário depois de irem ao cinema.

sábado, 29 de março de 2008

Educar pelo exemplo

Li num blog dum professor universitário um artigo 'Educar pelo exemplo' que achei muito interessante.

Começa assim: Quando as minhas filhas eram crianças, eu as levava às minhas aulas. Isto atraía a atenção dos meus alunos. Eu brincava: “Trago-as para que vejam que eu trabalho!” Claro, elas ficavam pouco tempo na sala e, finda a curiosidade, saíam e iam se divertir no campus, orientadas para que não se afastassem do prédio onde estávamos. Terminava a aula e lá ia eu procurá-las nos arredores. Eu me divertia e imagino que elas também. Além do mais, era uma maneira de incentivá-las a estudar e ter no horizonte a perspectiva de fazer um curso superior.

Leiam aqui o artigo na integra.

Depois partilhem comigo as vossas experiências como educadores ou como educandos.
Abri um grupo de discussão para onde podem enviar os vossos mails (ver caixa) e participarem neste grupo.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Pornografia versus erotismo (2)

Nos comentários que escrevi acerca deste assunto refiro-me a Francesco Alberoni.


Quem é Francesco Alberoni?

Nasceu no último dia do ano de 1929, em Piacenza, Itália. Jornalista, sociólogo e professor. Leccionou nas universidades de Milão e de Trento, mas também em Lausane e na universidade de Catânia. Autor de vários estudos sociológicos sobre movimentos e instituições, e mais recentemente sobre o relacionamento entre indivíduos. Actualmente, divide a sua actividade como conferencista e escritor, sendo ainda membro do Centro Experimental para Cinematografia. Na sua biografia conta com dois casamentos e quatro filhos. E uma colecção de obras editadas em várias línguas, entre as quais se destacam Enamoramento e Amor (1979), A Amizade (1984), Saber Decidir (2002) e o seu novíssimo Sexo e Amor.





Leiam a entrevista
http://www.maxima.xl.pt/0207/inti/100.shtml

segunda-feira, 24 de março de 2008

Recomendo: Lady Chatterley de Pascale Ferran


Uma adaptação do romance de D.H.Lawrence, "LADY CHATTERLEY" é a história de Constance, uma jovem mulher que, no seu castelo, vive dias monótonos, cismada no seu casamento e no sentido do dever.
O Amante de Lady Chatterley entrou para a história da literatura inglesa pela portado escândalo. O tema ousado (a relação extraconjugal de uma aristocrata com um empregado) e a descrição detalhada das cenas de sexo levaram o romance a ser banido – com direito à circulação de várias edições piratas antes da primeira publicação oficial na Inglaterra, em 1960.

Recomendem-me também filmes que já viram.

Livro / Filme recomendado: The nameshake - O bom nome

Um livro que aconselho a quem como eu vive entre duas ou mais culturas. Aconselho a quem perdeu raízes e anda à procura da sua própria identidade. O livro foi filmado por Mira Nair (Monson Wedding, Missisipi Masala, Salaam Bombay). Gostei tanto do livro como do filme.
Quando mudamos de país temos que nos integrar, muitas vezes apreender uma nova língua, assimilar usos e costumes que nos são estranhos e ao mesmo tempo tentar manter a nossa identidade.
Até as cores evocam coisas diferentes. Por quanto na Índia as pessoas fazem o luto de branco, na América as pessoas fazem o luto de preto. Na Índia é o vermelho que evoca a paixão e as mulheres casam-se com saris vermelhos, daí que seja um choque para muitos orientais verem casamentos em que a noiva está vestida de branco, cor que para os ocidentais evoca a pureza. Por sua vez em África o vermelho está muitas vezes ligado à bruxaria.
Muitas outras diferenças culturais são abordadas neste livro. Ainda que subtil pode ser dolorosa a confrontação entre as diferentes culturas. No entanto é importante não esquecermos as nossas origens.
Conhece as tuas origens para chegares ao teu destino.

Sinopse:
Trata-se da história de uma mulher indiana que deixa a sua vida de raízes tradicionais em Calcutá para se instalar em Cambridge, no Massachusetts, junto ao marido. Ashima resiste a todas as coisas americanas e anseia pela sua família. Com uma visão penetrante, a autora mostra não só o poder determinante dos nomes e das esperanças postas em nós pelos nossos pais, como a maneira lenta, e por vezes dolorosa, que encontramos para nos definir.

Pornografia versus erotismo

No mês passado passou na televisão holandesa o filme ‘Deep Throat’ (Garganta profunda). Apesar do apelo moral feito do político André Rouvoet para não passarem o filme, este passou em nome da liberdade de expressão. Em nome da liberdade de expressão pode-se ir muito longe (ofender fiéis de outras religiões, etc) excepto ofender a raínha.

Este filme estreou-se em Nova Yorque em 1972 e é talvez o filme pornográfico de maior sucesso de todos os tempos. O filme foi filmado em Miami Beach com um custo irrisório de 24 mil dólares financiados pela família mafiosa Peraino. Só nos EUA este filme arrecadou uma verba de 20 milhões de dólares, e no mundo inteiro esse valor chega aos 600 milhões. A actriz principal Linda Lovelace (1949-2002) recebeu uma quantia irrisória pelo papel que desempenhou neste filme e tornou-se mais tarde activista contra a indústria pornográfica.

Mas afinal, o que é pornografia? Qual a diferença entre pornografia e erotismo?

A palavra pornografia provém do grego 'porno' (prostituta) e 'grapho' (representação), portanto, etimologicamente, significa 'representação da prostituta'.
A palavra erotismo provém do latim 'eroticus' e este do grego 'erotikós', que se referia ao amor sensual e à poesia do amor.

Desde o começo do cristianismo as imagens sexuais foram criminalizadas.
Jacques-Marie Pohier, no livro Le Chrétien, le Plaisir et la sexualité (1974 ed. du Cerf.) em síntese lapidar, escreve: “A Igreja católica só admite o prazer sexual num caso particular: o dos esposos legítima e indissoluvelmente unidos, num coito pénis-vagina do qual se não devem eliminar as possibilidades de fecundação. Por um lado, proíbem-se todas as outras actividades susceptíveis de levar ao prazer sexual, e não existe nenhuma outra religião, cultura ou moral, que tenha limitado tão estritamente as condições da legitimidade do prazer sexual. Por outro, neste único caso em que é permitido, ele é precisamente apenas ‘permitido'. Durante mais de quinze séculos, o cristianismo pensou que, mesmo no caso em que era permitido, este prazer não estava livre de todo o pecado, e que, de todos os modos, não podia ser justificado senão por outra coisa: se um objectivo de outra ordem (por exemplo, um dos três ‘bens' do casamento) não viesse legitimar o seu exercício, não poderia ser prosseguido como um fim, mesmo se as condições requeridas para a sua legitimidade fossem respeitadas”.

A pornografia segundo a moral vitoriana (época de preconceitos, excessiva repressão moral e hipocrisia) provocava o desejo e por isso era condenável. Segundo a mesma moral, o sexo também só servia para procriar.

Em Abril de 1982, no parlamento português num debate sobre a lei do aborto o deputado João Morgado defendia a mesma teoria dizendo “O acto sexual é para ter filhos”. A deputada do PSD Natália Correia (1923-1993) deu resposta em forma de poema recitando:

Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração!
-uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção
ficou capado o Morgado."

Em 1964 um juiz associado à Suprema Corte dos Estados Unidos Potter Stewart (1915-1985) disse: - Eu não posso definir o que é pornografia, mas quando vejo reconheço imediatamente.

A mim também me parece difícil definir a pornografia. Incomoda-me a indústria pornográfica que utiliza a mulher, as crianças, os homens e até os animais como objectos.
Por outro lado, incomoda-me também que os jovens apesar de mais informados, tenham uma educação sexual em que, na maior parte das vezes, esteja ausente a componente moral e ética. Fala-se muito mais de sexo do que de amor. O sexo não pode ser só uma técnica como se fosse ginástica. O sexo ligado ao amor tem mais significado.
Parece-me também que nesta época da globalização todos os valores sejam vendidos. Vejam também o blogue do sociologo Carlos Serra (Moçambique) sobre o Zicoísmo. Vejam aqui.
Será que apreendemos todos pelo mesmo livro?

sexta-feira, 21 de março de 2008

Elogio ao amor

Gostei de ler esta crónica do Miguel Esteves Cardoso (in Expresso). Nos meus tempos de menina acho que o amor era uma coisa grande, misteriosa etc. Falavamos menos de sexo. Hoja há menos tabus, fala-se muito de sexo e pouco de amor. Talvez o amor tenha perdido alguma beleza. Lembro-me que gostava muito dum poema (Quase nada) do Eugénio de Andrade que dizia 'O amor é uma ave a termer nas mãos de uma criança. Serve-se de palavras por acreditar que as manhãs mais limpas não têm voz'.

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem,tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

quarta-feira, 12 de março de 2008

A SIDA

Somos todos seroPositivos até testar Negativo !

Li um livro 'Tabus e vivências em Moçambique' do sociólogo Edgar Nasi Pereira.
Um dos capítulos chama-se 'Empréstimo de mulheres' .
Uma pequena citação: O empréstimo de uma esposa ou a cedência de parente próxima, para «conforto do viajante», integravam-se na herança cultural da maioria das etnias moçambicanas. A prática não provocava reacções nem chocava quem quer que fosse. Era normalidade. A escolhida não se prostituía nem cometia adultério, sentindo-se, em geral, lisonjeada, por ser considerada mais apta para tornar requintada a hospitalidade familiar.

Em Moçambique são cerca de 21.000.000 as pessoas infectadas com sida. Por trás destes números há órfãos, as pessoas não produzem, cresce a pobreza etc.
Para além das vivências e dos tabus à volta desta doença (que não contribuem para irradicar esta enfermidade), parece-me difícil resolver este problema sem ajuda dos países ricos.
Sei, sim que há muitas campanhas informativas sobre a Sida.

Comentem.

terça-feira, 11 de março de 2008

Inventem-se novos pais

Mães que se orgulham de vestir a roupeta da filha adolescente, de freqüentar os mesmos lugares e até de conquistar os colegas delas são patéticas. Pais que se consideram parceiros apenas porque bancam os garotões, idem. Nada melhor do que uma casa onde se escutam risadas e se curte estar junto, onde reina a liberdade possível. Nada pior do que a falta de uma autoridade amorosa e firme.
Lya Luft em "Ponto de Vista" - Revista Veja de 06/06/2007

Pensar é transgredir

Criei este blog para trocarmos opiniões. Escolhi o título dum livro duma escritora brasileira, Lia Luft.
Gostava de trocar opiniões acerca de alguns temas e problemas: ser pai/mãe neste mundo globalizado, sobre a arte de viver/sobreviver e sobre o que apreendemos nos sítios onde vivemos.
Sugiram livros para ler, filmes para ver e músicas para ouvir.
E como dizia o poeta: 'A vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida'.