quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ynari. A menina das cinco tranças - Ondjaki


Era uma vez uma menina que tinha cinco tranças lindas e se chamava Ynari. Ela gostava muito de passear perto da sua aldeia, ver o campo, ouvir os passarinhos, e sentar-se junto à margem do rio.
Certa tarde, já o Sol se punha, Ynari ouviu um barulho. Não eram os peixes a saltar na água, não era o cágado que às vezes lhe fazia companhia, nem era um passarinho verde. Do capim alto saiu um homem muito pequenino com um sorriso muito grande. E embora ele não fosse do tamanho dos homens da aldeia de Ynari, ela não se assustou.
O homem muito pequenino andava devagarinho e devagarinho se aproximou.
— Olá! — cumprimentou.
— Olá — respondeu Ynari, receando que estivesse a falar alto demais para o tamanho do ouvido do homem muito pequenino.
— Desculpa, mas não sei o teu nome...
— Eu também não sei o meu nome... — desculpou-se o homem muito pequenino. — Mas chamam-me homem pequenino.
— Ah, está bem... — sorriu Ynari, enquanto se deitava na relva para ficar mais perto dele. — Eu tenho um nome só, quer dizer, uma só palavra: chamo-me Ynari.
— Ynari é um nome muito bonito — o homem sentou-se, ficando, assim, ainda mais pequeno.
— Posso fazer uma pergunta, homem muito pequenino?
— Podes fazer muitas perguntas.
— De onde vens?
— Venho da minha aldeia, que fica mais para cima, junto à nascente do rio.
— E lá, na tua aldeia, são todos pequeninos?
— Sim, somos todos mais pequenos que vocês, quer dizer, depende daquilo que entendemos por «pequeno». Não achas?
— Nunca tinha pensado nisso. Sempre pensei que uma coisa menor fosse uma coisa pequena...
— Pode não ser assim... Conheces a palavra «coração»?
— Conheço! — sorriu Ynari. — E não é só uma palavra, é isto que bate dentro de nós — e mostrou no seu peito onde o coração batia.
— Claro, e... O coração é pequeno para ti?
— É... e não é! Cabe tanta coisa lá dentro, o amor, os nossos amigos, a nossa família...
— Vês? — disse o homem mais pequeno que ela. — Às vezes uma coisa pequenina pode ser tão grande...
Os dois ficaram por um tempo calados, olhando o Sol que, do outro lado do rio, quase já tinha desaparecido. Assim, tão amarelada que estava a tarde, parecia que o Sol se ia afogar no rio e que os peixes, saltando, se queimavam nos seus raios avermelhados. Estiveram algum tempo assim, até que Ynari começou a brincar com as suas tranças: eram cinco tranças lindas, negras, compridas. A menina tinha olhos enormes que brilhavam muito e lábios carnudos muito bonitos.
— E tu, de onde vens? — perguntou o homem mais pequeno que Ynari.
— Eu venho daquela aldeia ali — apontou a menina na direcção das cubatas. — Vivo ali com a minha mãe, o meu pai, a minha avó e o meu povo.
— E quem te faz as tranças?
— Ninguém me faz estas tranças, porque elas não se desfazem... A minha avó diz que eu já nasci com as tranças e que um dia vou saber porquê. Eu gosto muito de brincar com as minhas tranças.
Levantaram-se, os dois, e caminharam junto ao rio. Agora o homem mais pequenino que Ynari já não lhe parecia tão pequenino, nem era estranho caminhar ao seu lado, embora ele fosse muito mais baixo do que a menina. De vez em quando, Ynari afastava os capins mais altos para que o homem mais pequeno pudesse caminhar livremente.
— Não tens medo dos bichos? — ela perguntou.
— Não. Os bichos não fazem mal nenhum... E mesmo a palavra «medo» pode ser vivida de várias maneiras.
— Mas quando estás perto de uma palanca negra gigante, tens medo, ou não?
— Sabes, Ynari, nunca estive muito perto de uma palanca negra gigante, embora já a tenha visto muitas vezes. E tu?
— Eu só a vejo de longe.
— A palanca negra gigante correu até perto de ti, fez-te mal?
— Não, nunca.
— Vês... não precisas de usar a palavra «medo».
— Também acho... — disse Ynari, dando a mão ao homem simplesmente pequeno.
Já era mesmo de noite. O céu não tinha nuvens nenhumas e estava cheio de estrelas para se contar. Os dois olharam o céu, que era escuro e brilhante ao mesmo tempo.
— Olha tantas estrelas...
— Estou a olhar — disse o homem simplesmente pequeno.
— Parece que dançam! — Ynari sorria de contente.
— É verdade... parece mesmo. Deve ser altura de usarmos a palavra «admiração», não achas? — sorriu o homem simplesmente pequeno.
— Acho, sim... Mas, olha, tenho que ir.
— Se tens que ir, tens que ir.
— Amanhã posso ver-te? — perguntou Ynari.
— Podes. Amanhã estarei ali, no mesmo sítio onde hoje nos encontrámos, junto ao rio, ao nascer do Sol.
— Amanhã podemos brincar com mais palavras?
— Claro. Podemos sempre brincar com as palavras...! — sorriu o homem que já não parecia tão pequenino.
— Bons sonhos — despediu-se Ynari, a correr. — Até amanhã.
— Até amanhã. Bons sonhos para ti também.
Ynari voltou a correr para a sua aldeia e decidiu não dizer a ninguém que tinha encontrado um homem que era pequenino mas que não era tão pequenino assim. Os caçadores tinham regressado, e o povo estava à volta da fogueira, contente com a caçada, de modo que ninguém lhe ia ralhar por chegar tarde. Ynari não gostava de ver os olongos mortos, embora a sua avó lhe tivesse explicado que os homens da sua aldeia só caçavam para comer.
Já deitada, a menina das cinco tranças sentiu que a avó se aproximava. A avó, que se mexia devagarinho porque era muito velhinha (e que também estava a ficar pequenininha embora não tão pequenininha como o homem que já não lhe parecia tão pequenino), veio deitar-se ao pé dela.
— Estás triste por causa dos olongos? — a avó perguntou.
— Não… Hoje o meu coração não ficou triste. Hoje… — e Ynari quase revelou o seu segredo.
— Hoje o quê? — perguntou a avó.
— Nada, avó… Não te posso contar ainda. Mas hoje foi um dia muito especial para mim — disse Ynari, deu um beijinho à avó e adormeceu.
No dia seguinte, muito cedo, mesmo antes de os galos cantarem, Ynari afastou-se da aldeia em direcção ao rio. Sentou-se e ouviu ruídos nos capins altos.
O homem que agora não lhe parecia tão pequeno apareceu com o mesmo sorriso nos lábios. Ela virou-se e cumprimentou:
— Bom dia, homem pequenino. Estou contente por te ver.
— Bom dia, menina das cinco tranças… Também o meu coração se alegrou quando te vi.
— Sabes, esta noite tive um sonho...
— Queres contar-me? — o homem pequeno sentou-se.
— Sonhei que eu e tu estávamos aqui sentados, em frente ao rio. E depois íamos para muito longe, acho que era a tua aldeia...
— E depois?
— Depois falávamos com muitos homens... E havia muitas palavras, e crianças... Vi muitas imagens, não me lembro de tudo.
— Se calhar devemos aqui usar a palavra «confusão»... É isso? — sorriu o homem menos pequenino...
— É mesmo — desatou a rir Ynari, a menina das cinco tranças.
— É uma grande confusão, sim...
Estavam assim os dois conversando sobre as palavras, a importância que as palavras tinham na vida de cada um, como as usavam, quando as usavam, com quem as usavam, e que significados tinham para o coração de cada um deles.
Ynari tentou explicar-lhe que havia palavras que para ela tinham mais do que um significado ou que lhe provocavam mais do que uma só alegria ou uma só tristeza. A menina disse que era difícil explicar às crianças da sua idade como gostava de palavras, e o que as palavras podiam fazer entre duas pessoas.
— Sempre gostei muito das palavras, mesmo daquelas que ainda não conheço, sabes? Existem palavras que estão no nosso coração e que nunca estiveram na nossa boca... Nunca sentiste isso? — perguntou finalmente Ynari, depois de tantas e tantas palavras ditas.
O homem mais ou menos pequeno escutou, atento a tudo. E ia começar a falar quando, do outro lado do rio, lá em cima de uma montanha, um grupo de homens com armas na mão começou a disparar contra outro grupo de homens com armas na mão.
Dali, daquele lado do rio, Ynari e o homem mais ou menos pequeno podiam ver tudo: aqueles homens não gostavam uns dos outros, e usavam as armas e as balas e as vidas uns dos outros para mostrar a sua raiva. Ynari estava assustada mas não se mexeu. O homem mais ou menos pequeno fechou um bocadinho os olhos, como fazem as pessoas que querem ver melhor coisas que estão a acontecer muito longe. Depois os tiros pararam e alguns homens correram em direcção a esta margem do rio. Ynari e o homem mais ou menos pequeno esconderam-se atrás dos capins altos e agacharam-se sem fazer barulho. Ynari tremia de medo e os seus olhos mostravam que estava assustada. Apertou com muita força a mão daquele homem pequeno, e ele disse-lhe baixinho:
— Não tenhas medo, Ynari...
Os homens com armas na mão vieram e puseram-se a dormir. O homem pequeno saiu dos capins altos, foi até muito perto deles. Mexia-se de um modo estranho e dizia, baixinho, umas tantas palavras. De repente, as armas dos homens que estavam a dormir transformaram-se em armas de barro.
Ynari espreitava nos capins altos e ficou com a boca toda aberta de espanto: era um homem pequeno e mágico!
O homem pequeno e mágico voltou devagarinho, pegou na mão de Ynari e caminharam para norte, sempre junto ao rio. Parecia que não tinham caminhado muito, mas a vegetação era toda diferente: as flores eram mais amareladas e as árvores mais altas.
Depois afastaram-se do rio e finalmente pararam junto de duas enormes árvores que, lá bem em cima, se tocavam.
— Para isto... podemos usar as palavras «portão de árvore»? — disse Ynari, enquanto olhava muito espantada, porque o «portão de árvore» era muito alto e bonito.
— Sim — respondeu o homem pequeno e mágico. — Podes usar essas palavras... Este é o portão de árvore onde começa a minha aldeia!
— Ah! — exclamou Ynari, cheia de curiosidade.
Entraram na aldeia. O que pisavam era um capim muito curto, muito verde, muito bom de se pisar porque era suave e estava sempre molhado. Quando olhou com mais cuidado, Ynari viu muitas árvores pequenas e percebeu que eram as casas dos homens pequenos. Eram, como ela mesma pensou, «as casas pequenas dos homens pequenos».
Muitos homens e mulheres (todos pequenos) espreitavam das suas árvores pequenas para olhar a menina que passava de mãos dadas com o homem pequeno e mágico.
— És tu o soba da aldeia? — Ynari perguntou.
— Não — sorriu o homem pequeno e mágico. — Nesta aldeia não temos soba.
Pararam diante de uma árvore muito antiga. O homem pequeno e mágico roçou o cotovelo no casco da árvore, e ouviram-se passinhos vindos de dentro. Ynari encolheu-se atrás do homem pequeno e mágico.
— Não tenhas medo, Ynari, quero-te apresentar duas pessoas muito especiais.
Era um velho muito velho com umas barbas muito grandes que quase chegavam ao chão. Caminhava com a ajuda de um pau torto, muito torto, que era como se fosse a sua bengala pequenina.
— Ynari: este é o velho muito velho que inventa as palavras — disse o homem pequeno e mágico.
O velho olhou para cima, para o rosto belo de Ynari, e sorriu. Bateu três vezes com a sua bengala pequenina no chão, que era a sua maneira de dizer que estava contente. Atrás dele apareceu outra velha muito velhinha, só que não tinha barbas, tinha uma trança branca muito comprida.
— Ynari: esta é a velha muito velha que destrói as palavras — disse o homem pequeno e mágico.
Logo depois, Ynari foi sendo apresentada a outros homens pequenos e mulheres pequenas. Enquanto se preparava uma festa pequenina por causa da chegada de Ynari, ela afastou-se com o homem pequeno e mágico e sentaram-se numa pedra alta, de onde se via toda a aldeia dos homens pequenos.
— Tu és um mágico, homem pequeno! — disse Ynari, espantada.
— Todos somos mágicos, Ynari. Aqui vais aprender que todos somos mágicos...
— Tu encantas as armas! As armas ficaram de barro — disse, espantada, Ynari. — Imagino quando eles agora forem disparar! — desatou a rir a menina das cinco tranças.
— Aquelas armas já não disparam. Agora podemos utilizar a palavra «inútil».
— O que é «inútil»? — quis saber Ynari.
— É aquilo que já não é útil, ou seja, que já não serve para nada.
— Ah... Diz-me uma coisa — Ynari olhou para o homem pequeno e mágico. — Todos somos mesmo mágicos?
— Sim, todos. Mas cada um tem que descobrir a sua magia.
— Eu queria descobrir a minha...
— Já não falta muito — disse o homem pequeno e mágico enquanto se levantava. — Já não falta muito, Ynari.
Entretanto a festa estava pronta.
Alguns homens pequenos com batuques pequenininhos começaram a tocar, outros dançavam, e muitos riam alegremente. Comeram, e Ynari teve que comer muitas vezes porque a comida era pequenina e ela estava com muita fome.
Depois a música parou.
Todos se sentaram e então Ynari, a menina das cinco tranças, viu que as pessoas pequenas se afastavam para deixar passar o velho muito velho que inventa as palavras e a velha muito velha que destrói as palavras.
Ynari sentou-se também e ficou a olhar.
No meio das pessoas havia uma enorme cabaça mas, mesmo assim, claro, era uma cabaça pequena, onde o velho muito velho e a velha muito velha deitavam ervas e diziam algumas palavras que ela nunca tinha ouvido nem conseguia sequer entendê-las para as repetir dentro de si.
Alguns homens pequenos aproximaram-se da velha muito velha que destrói as palavras, e cada um deles disse, no ouvido dela, uma palavra. A velha muito velha que destrói as palavras ouviu todas as palavras que os homens pequenos tinham trazido de fora da aldeia e decidiu que ia destruir algumas delas.
— São palavras que já não servem para nada, e têm que desaparecer... — disse a velha muito velha que destrói as palavras.
— São palavras «inúteis», é isso? — perguntou baixinho Ynari.
— Sim — confirmou o homem pequeno e mágico.
Depois, outro grupo de homens pequenos aproximou-se da roda de pessoas. O velho muito velho que inventa palavras pôs novas ervas na cabaça enorme mas pequena, disse também algumas palavras que Ynari não conseguia lembrar, mesmo assim, estando ainda as palavras tão frescas. Os homens pequenos punham a mão na cabaça enorme mas pequena, bebiam um pouco do líquido e aproximavam-se do velho muito velho que inventa palavras. Ele dizia uma palavra no ouvido de cada um e eles abandonavam a aldeia dos homens pequeninos para voltarem só no próximo cacimbo.
O homem pequeno e mágico foi chamado ao centro, e apresentou Ynari, a menina das cinco tranças.
Também Ynari foi chamada ao centro pela velha muito velha e pelo velho muito velho.
Ela foi devagarinho, caminhando envergonhada por estar tanta gente pequenina a olhar para ela.
— Agora és tu, Ynari — disse o homem pequeno e mágico
— Vou saber a minha magia? — perguntou Ynari.
O homem pequeno e mágico foi-se sentar, e Ynari, a menina das cinco tranças, ficou perto da cabaça enorme mas pequena, ouvindo a velha e o velho.
A velha muito velha que destrói as palavras falou assim:
— Cada pessoa sua magia; cada árvore sua raiz. O peixe só sabe nadar na água. O humbi-humbi preso, nas gaiolas, morre. Coisa de metal que sai metal e fumo, destruímos. Coisa de metal que vira semente e mata, destruímos. De noite, olhar e respeitar as estrelas. De dia, olhar e imitar os animais. Primeiro somos crianças, depois somos caçadores, depois temos crianças, depois ficamos a olhar as crianças. O cágado, sempre lento, é quem chega primeiro. Mais sabedoria tem a palanca negra gigante que só olha os homens de longe. Falei.
Ynari estava quietinha porque sabia que tinha de ouvir os mais-velhos sem nada dizer, mas olhava para o homem pequeno e mágico, porque pouco entendia aquelas palavras. Então, o velho muito velho que inventa as palavras falou assim:
— Cada rio suas águas; cada céu suas nuvens. Peixe dentro da água brinca, fora da água sofre. O humbi-humbi não conhece gaiola, só respeita nuvem. Coisa de metal que sai fumo, vira barro. Coisa de metal como semente, vira embondeiro. De noite, as estrelas olhar e uma só escolher. De dia, os animais caçar, seja, o alimento. Primeiro somos crianças e coração bate. Depois somos caçados por nosso coração. Depois descobrimos criança no coração. Depois a criança nos ensina outros caminhos do coração. O cágado também sabe perder. A palanca negra gigante também sabe fugir. Falei.
Então, juntos, os velhos deitaram ervas na cabaça enorme mas pequena. Olharam durante algum tempo para Ynari, e finalmente sorriram. Parecia que os dois velhos muito velhos falavam numa só voz:
— Não temos uma magia para te dar, tens que ser tu a descobrir a tua magia...Todas as cacimbas nos reunimos aqui, para destruir palavras que já não servem, e inventar algumas que vão servir para alguma coisa. Nós conhecemos a sombra da tua magia, mas só tu podes saber onde está a própria magia. Hoje queremos oferecer-te uma palavra e dar-te uma fórmula.
Ynari sorriu, estava contente, sentiu que todas aquelas palavras lhe eram muito «úteis».
— Leva contigo a palavra «permuta» — disseram-lhe.
— E a fórmula? — perguntou Ynari.
— A fórmula está dentro do teu coração.
Ynari estava muito contente ao sair da aldeia dos homens pequeninos, e não ficou triste com a despedida. O homem pequeno e mágico acompanhava-a, e voltaram muito depressa para junto do rio.
— Tenho que ir. Amanhã posso ver-te?
— Sim, claro que podes ver-me. Amanhã cá estarei.
— Bons sonhos para ti.
— Bons sonhos para ti também, menina das cinco tranças.
— Sabes uma coisa? — disse Ynari.
— O que é?
— Os sonhos ajudam-me a viver. Acho que eles também me vão ajudar a descobrir a minha magia…
Ynari foi a correr em direcção à sua aldeia.
Era o segundo dia a seguir à caçada e ninguém se zangou por ela ter chegado um pouco mais tarde.
Ynari foi-se deitar e teve um sonho com muitas palavras novas. Durante o sonho, um velho muito velho que explica o significado das palavras explicou--lhe o que queria dizer a palavra «permuta». Ela fez muitas perguntas a esse velho muito velho, e finalmente pensou que uma permuta era uma troca justa, em que alguém dá alguma coisa e também recebe algo, pode não ser do mesmo tamanho, ou da mesma cor, ou até do mesmo sabor... Mas Ynari entendeu que numa permuta é bom que duas pessoas, ou dois povos, fiquem contentes com o resultado dessa troca.
A menina das cinco tranças acordou muito cedo nesse dia.
Caminhou em direcção ao rio. As suas águas estavam calmas e Ynari pensou que se calhar os peixes ainda estavam a dormir, e talvez estivessem mesmo a sonhar.
Dos capins altos saiu, mais uma vez, o homem pequeno e mágico.
— Bom dia, homem pequeno e mágico — sorriu Ynari. — Estou contente por te ver!
— Bom dia, menina das cinco tranças. Eu também estou contente por te ver.
— Sabes, esta noite tive mais um sonho.
— E queres contar-me? — sentou-se o homem pequeno e mágico.
— Sonhei primeiro com um velho muito velho que explica o significado das palavras.
— Sim, sei quem é.
— E ele explicou-me o significado da palavra «permuta»... Mas eu também queria perguntar coisas sobre a palavra «guerra». Eu até sei como usam essa palavra, mas... para que serve a palavra «guerra»?
— Sabes, Ynari, embora eu não seja o velho muito velho que explica o significado das palavras, também eu tenho guardado no meu coração o significado de algumas palavras. E eu acho que a palavra «guerra» não serve para nada!
— E a palavra «explosão»?
— Eu acho que a palavra «explosão» só devia ser usada noutras situações, não em situações de guerra.
— Em que situações? — perguntou Ynari, enquanto olhava para o rio, porque os peixes já saltavam, já tinham acordado.
— Queres pensar comigo? — disse o homem pequeno e mágico.
— Começa tu — pediu Ynari.
— Então, eu acho que a palavra «explosão» podia ser mais utilizada entre as estrelas. Quando elas chocam, nós aqui no planeta Terra vemos uma coisa linda acontecer no céu...
— Ah!, que bonito — exclamou Ynari. — E uma «explosão de alegria», pode ser?
— Claro! — riu bem alto o homem pequeno e mágico. — E uma «explosão de cores»?
— Também... Também pode ser.
Estiveram um bom tempo em silêncio observando os peixes que nadavam e os pássaros que voavam. Realmente, quando se sabe ver as coisas simples da vida, descobre-se que o mundo é muito, muito bonito.
Ynari, a menina das cinco tranças, deu a mão ao homem pequeno e mágico, e foram caminhando junto ao rio, sempre para sul.
— Eu acho que já descobri a minha magia — disse a menina. — Podes vir comigo a cinco aldeias?
— Posso, se quiseres que eu vá contigo...
— Quero. Quero que vejas o que eu vou fazer e que depois vás à tua aldeia dar um recado meu à velha muito velha que destrói as palavras.
— Está bem — concordou o homem pequeno e mágico.
Ynari tinha aprendido com o homem pequeno que um sítio fica muito perto se quisermos que esse sítio esteja perto de nós.
Caminharam muito, mas não estavam cansados, e assim chegaram à primeira aldeia. Ynari bateu as palmas e o soba da aldeia veio falar com eles.
— Bom dia, mais-velho — Ynari cumprimentou. Mas o mais-velho não escutou porque era surdo. Então Ynari falou com ele por gestos e ele entendeu.
— Bom dia, menina — disse, por gestos, o mais-velho.
— Diz-me uma coisa: esta aldeia está em guerra?
— Sim, estamos em guerra com outra aldeia.
— E porquê?
— Porque nós não ouvimos os passarinhos, e eles ouvem! E nós também queremos ouvir os passarinhos, as quedas-d'água, a voz das pessoas — gesticulou o mais-velho.
— Já entendi, mas diz-me uma coisa...
— O que é? — perguntou o mais-velho.
— Se eu vos ensinar a ouvir os passarinhos, vocês deixam de estar em guerra?
— Sim. Nós só queremos saber usar a palavra «ouvir».
— Muito bem. Então peço-te que juntes todo o teu povo hoje de noite, faças uma fogueira, arranjes uma cabaça. E eu vou ensinar-vos a palavra «ouvir».
Assim foi.
Preparou-se a festa, uma cabaça enorme foi posta ao lume, e toda a aldeia foi chamada para estar presente. Afinal, estava na aldeia uma menina com cinco tranças que ia ensinar a palavra «ouvir».
Ynari pediu que todos os habitantes da aldeia fizessem uma fila, trouxessem do rio um bocadinho de água na mão, e pusessem essa água na cabaça. A fogueira já estava acesa, já todos tinham posto o seu bocadinho de água na cabaça, quando Ynari disse algumas palavras, e depois ouviu-se a palavra «permuta». Com a catana do mais-velho ela cortou uma trança e deitou-a na enorme cabaça.
— Agora vão todos dormir... — pediu Ynari.
No dia seguinte, quando acordaram, ainda saía fumo da cabaça enorme, e em cima dela estavam muitos passarinhos de muitas cores a cantar. O mais-velho da aldeia desatou a dançar alegremente porque podia ouvir os passarinhos.
Ele quis saber onde estava a menina das cinco tranças, mas ela já não estava na aldeia, e já não tinha cinco tranças...
A menina das quatro tranças caminhava com o homem pequeno em direcção à segunda aldeia, que era a aldeia dos que não podiam dizer palavras. Também nesta aldeia se comunicava com gestos, e assim Ynari percebeu que estas pessoas não conseguiam falar. Mas Ynari tinha aprendido muitos gestos na aldeia anterior e não teve dificuldade em entender as pessoas.
Assim, mais uma vez por gestos, começou a falar:
— Chamo-me Ynari e venho ensinar o significado da palavra «falar»...
— Pois... — lamentou-se, por gestos, o mais-velho daquela aldeia. — Nós não conseguimos «falar», e por isso andamos em guerra com outra aldeia.
— Já entendi. Mas diz-me uma coisa...
— O que é? — perguntou o mais-velho.
— Se eu vos ensinar a «falar», vocês deixam de estar em guerra?
— Sim. Nós só queremos conseguir «falar».
— Muito bem. Então peço-te que juntes todo o teu povo hoje de noite, faças uma fogueira, arranjes uma cabaça. E eu vou ensinar-vos a «falar».
— Entendi, mas diz-me uma coisa — gesticulou o mais-velho.
— O que é? — perguntou Ynari.
— Porque usas quatro tranças?
— Porque já só preciso de quatro tranças para usar a palavra «paz» — sorriu a menina das quatro tranças.
— Ah sim? Então mostra-nos como é.
— Hoje à noite mostro... — disse Ynari, enquanto piscava o olho ao homem pequeno que estava de mãos dadas com ela.
Assim foi.
Como já tinha acontecido na outra aldeia, todos trouxeram na mão um pouco de água do rio, todos estiveram junto à fogueira vendo Ynari murmurar as palavras estranhas, a palavra «permuta», e vendo também a sua quarta trança ser cortada. Depois Ynari pôs a trança dentro da enorme cabaça e todos foram dormir.
Pela manhã, o mais-velho daquela aldeia desatou aos gritos, imitando os passarinhos e os galos, muito contente porque já conseguia «falar».
Entretanto, a menina das três tranças e o homem pequeno já estavam a caminho de outra aldeia: a aldeia daqueles que não viam o rio. Estes podiam «falar» e até «ouvir» mas andavam na guerra porque queriam «ver». O mais-velho explicou a Ynari que era muito difícil estar na guerra sem ver nada, que morria muita gente por causa disso, e Ynari explicou-lhe que a guerra era isso mesmo, uma cegueira que só trazia mortes.
— Mas diz-me uma coisa...
— O que é? — perguntou o mais-velho.
— Se eu vos ensinar a «ver», vocês deixam de estar em guerra?
— Sim. Nós só queremos saber «ver».
— Muito bem. Então peço-te que juntes todo o teu povo hoje de noite, faças uma fogueira, arranjes uma cabaça. E eu vou ensinar-vos a «ver».
— Entendi, mas diz-me uma coisa — gesticulou o mais-velho.
— O que é? — perguntou Ynari.
— Por que usas três tranças?
— Porque já só preciso de três tranças para usar a palavra «paz» — sorriu a menina.
— Ah sim? Então mostra-nos como é.
E mais uma vez se reuniu o povo, se acendeu a fogueira com muito cuidado, e Ynari murmurou as suas palavras estranhas, a palavra «permuta», e cortou a terceira trança. Depois todos se foram deitar.
No dia seguinte, o mais-velho da aldeia desatou aos gritos logo muito cedo, pois tinha sido acordado pelos primeiros raios de Sol. Todos alegres, foram olhar as coisas: o rio, os animais, a cor das flores e do céu, e já não tinham nenhuma razão para usar a palavra «guerra».
Ainda mais para sul a menina e o homem pequeno chegaram à aldeia dos que não sentiam o cheiro das flores. O mais-velho da aldeia explicou a Ynari que eles nunca tinham sentido o cheiro das coisas, da fruta, do peixe-seco, da fuba. E que estavam em guerra com outra aldeia para que pudessem saber o significado da palavra «cheirar».
— Mas diz-me uma coisa...
— O que é? — perguntou o mais-velho.
— Se eu vos ensinar a «cheirar», vocês deixam de estar em guerra?
— Sim. Nós só queremos saber «cheirar».
— Muito bem. Então peço-te que juntes todo o teu povo hoje de noite, faças uma fogueira, arranjes uma cabaça. E eu vou ensinar-vos a «cheirar».
— Entendi, mas diz-me uma coisa — quis saber o mais-velho.
— O que é? — perguntou Ynari.
— Porque usas duas tranças?
— Porque já só preciso de duas tranças para usar a palavra «paz» — sorriu a menina.
— Ah sim? Então mostra-nos como é.
E foi o mesmo de sempre: cabaça enorme, fogueira, todos de água na mão, e Ynari murmurando as palavras estranhas, a palavra «permuta», e cortando mais uma trança.
No dia seguinte, todos naquela aldeia sentiram o cheiro das flores, muitos espirraram por causa do pó das asas das borboletas, outros brincaram deitados no chão cheirando a relva ou pequenas flores.
Ynari caminhava de mãos dadas com o homem pequeno e chegaram à quinta aldeia. Nesta aldeia não sentiam o sabor dos alimentos. Comiam de tudo, mas não conheciam a diferença entre o doce e o salgado, entre a manga e o maboque, entre a cana-de-açúcar e o peixe-seco. E só por isso andavam em guerra.
— Bom dia, mais-velho... — Ynari cumprimentou.
— Bom dia, menina de uma trança só — disse o mais-velho.
— Diz-me uma coisa: esta aldeia está em guerra?
— Sim, estamos em guerra com outra aldeia.
— E porquê?
— Porque nós não sabemos o significado da palavra «sabor»! E nós também queremos experimentar o «sabor» dos alimentos — explicou o mais-velho.
— Já entendi... Mas diz-me uma coisa...
— O que é? — perguntou o mais-velho.
— Se eu vos ensinar a sentir o «sabor», vocês deixam de estar em guerra?
— Sim. Nós só queremos saber usar a palavra «sabor».
— Muito bem. Então peço-te que juntes todo o teu povo hoje de noite, faças uma fogueira, arranjes uma cabaça. E eu vou ensinar-vos a palavra «sabor».
— Mas diz-me uma coisa — quis saber o mais-velho.
— O que é? — perguntou Ynari.
— Porque usas uma trança só?
— Porque já só preciso de uma trança para usar a palavra «paz» — sorriu a menina.
— Ah sim? Então mostra-nos como é.
Era uma aldeia muito grande, e também foi grande a fila que fizeram desde o rio até à cabaça enorme que estava em cima do fogo.
Ynari, a menina que já só tinha uma trança, murmurou as palavras estranhas, disse a palavra «permuta», e cortou a última trança que tinha. Depois falou para todos:
— Hoje usei a minha última trança. Amanhã de manhã, já podem comer as frutas e todos os alimentos sabendo o significado da palavra «sabor». Queria pedir-vos uma coisa: deixem de usar a palavra «guerra». Estive numa aldeia onde ninguém conhecia o significado da palavra «ver», e andavam em guerra com outra aldeia pensando que isso lhes ia ensinar a «ver». Mas não, a palavra «guerra» é parecida com a palavra «desaparecer», que é parecida com as palavras «deixar de viver». A partir de amanhã não procurem mais a palavra «guerra» porque ela vai deixar de existir... — piscou o olho ao homem pequeno.
Na manhã seguinte, muito cedo, as pessoas da aldeia foram comer, comeram muito, até de mais, porque queriam conhecer os vários significados da palavra «sabor», que era diferente se comessem peixe ou carne, banana ou mandioca.
Caminhavam de novo junto ao rio. Ynari, a menina sem tranças, e o homem pequeno voltaram a sentar-se no mesmo sítio de sempre, onde pela primeira vez se tinham encontrado.
— Sabes, homem pequeno — começou a falar Ynari. — Estou muito contente por ter descoberto a minha magia.
— Eu também estou contente por ti, Ynari.
— Agora quero pedir-te um favor.
— E qual é?
— Quando chegares à tua aldeia, vai falar com a velha muito velha que destrói as palavras e diz-lhe que eu mandei por ti uma palavra para ela destruir...
— Queres que ela destrua a palavra «guerra»?
— Sim. Explica-lhe o que vimos e o que ouvimos. Acho que é uma palavra que ela vai querer destruir.
— Está bem, vou dar o teu recado.
— Olha, tenho que ir. Na minha aldeia já devem estar preocupados. Desta vez demorámos mesmo muito tempo — sorriu a menina sem tranças.
— Está bem — concordou o homem pequeno.
— Acho que está na hora de usarmos a palavra «despedida»...
— Também acho.
— Sabes uma coisa, homem pequeno?
— O que é, Ynari?
— Para mim, a palavra «despedida» tem muito da palavra «encontro» e um bocadinho também da palavra «saudade».
— Explica-me — disse o homem pequeno enquanto se levantava.
— Não sei explicar muito bem... Mas, desde a primeira vez que te vi, eu senti uma coisa no meu coração...
— No teu coração?
— Sim, cá dentro, neste coração que é pequenino e que é tão grande... Eu vou contar-te um segredo.
— Conta.
— Mas não digas nada ao velho muito velho que inventa as palavras.
— Está bem — sorriu o homem pequeno.
— Eu acho que o meu coração também inventa palavras... No dia em que te vi, logo, logo, o meu coração inventou para nós a palavra «amizade».
— Eu sei, Ynari, eu também senti o mesmo.
— A sério?
— Sim — disse o homem pequeno. — Agora já sabes...
— Já sei o quê? — perguntou Ynari, a menina sem tranças.
— Assim como há um velho muito velho que inventa as palavras, também o nosso coração, quando precisa, sabe inventar palavras.
Ynari levantou-se. Já tinham usado a palavra «despedida», agora estavam a usar as palavras «olhar para o outro». Estiveram assim algum tempo.
— Quando é que nos voltamos a ver? — perguntou Ynari.
— Sempre que quisermos.
— Mas tu vives tão longe...
— Há muitas maneiras de se ir muito longe — disse o homem pequeno.
— Diz-me uma.
— Tu sabes...
— Achas que posso apanhar boleia do humbi-humbi?
— É uma ideia, ele é rápido.
— Mas eu sou tão pesada para ele...
— Mas não és pesada para o coração dele — sorriu o homem pequeno.
— Experimenta viajar no coração do humbi-humbi...
— Está bem, está bem — começou a correr Ynari. — Adeus, até qualquer dia!
— Adeus. Estamos juntos. Eu também sei viajar no coração do humbi-humbi.
— Eu sei — disse Ynari. — Agora já sei!
E, como dizem os mais-velhos, foi assim que aconteceu.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sociologia - Aula 01 (1 de 2)

Estas aulas tratam da organização e funcionamento da sociedade e da relação entre as pessoas que nela vivem. Os fundadores da Sociologia foram Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber.
É interessante a forma simples como são explicadas as relações sociais e os problemas da sociedade. Estas aulas falam da escravatura, das classes sociais, do valor do trabalho, do que é a cultura e das vantagens e desvantagens da globalização. Procurem as outras aulas (são 5) no Youtube.


quinta-feira, 10 de março de 2011

Vídeo: 'Retrato Social de Portugal' de António Barreto.

São 7 episódios que tencionam retratar a sociedade portuguesa contemporânea. O autor António Barreto (sociólogo) tentou responder as perguntas mais simples. Quem somos? Onde vivemos? Como trabalhamos? Que saúde, que educação e que justiça temos? e conseguiu criar materiais fundamentais para compreender um pouco melhor o Portugal de hoje.
Para isso, o autor recorreu à comparação com o que Portugal era há três ou quatro décadas e sublinhou especialmente as grandes mudanças ocorridas desde então. É o mesmo país, mas os portugueses já não são os mesmos.

Vídeo do 1º programa - Gente diferente: Quem somos, quantos somos e onde vivemos?
Os portugueses são hoje muito diferentes do que eram há trinta anos. Vivem e trabalham de outro modo. Mas sentem pertencer ao mesmo país dos nossos avós. É o resultado da história e da memória que cria um património comum. Nascem em melhores condições, mas nascem menos. Vivem mais tempo. Têm famílias mais pequenas. Os idosos vivem cada vez mais sós.

Vídeo do 2º programa - Ganhar o pão: O que fazemos
O trabalho mudou muito nestas últimas décadas. A maioria dos portugueses trabalha nos serviços. Poucos trabalham na agricultura e ainda menos nas pescas. Muitos emigraram. As mulheres são metade das pessoas que trabalham, o que é uma grande diferença com o passado recente. Com a integração europeia, a economia portuguesa fez uma grande mudança. Todos vivem melhor, mas há muitas empresas que não conseguiram adaptar-se às novas condições

Vídeo do 3º programa - Mudar de vida: O fim da sociedade rural
A sociedade contemporânea, urbana, era ainda há pouco tempo rural. Mudou muito depressa. Muitos portugueses emigraram, a maior parte saiu das aldeias e foi viver para as cidades e para o litoral. O campo está despovoado. As cidades cresceram. As estradas aproximaram as regiões. Nas áreas metropolitanas, organizou-se uma nova vida quotidiana. Há mais conforto dentro das casas, mas as condições de vida nas cidades são difíceis.

Vídeo do 4º programa - Nós e os outros: Uma sociedade plural
Há quarenta anos, havia só um povo, uma etnia, uma língua, uma cultura, uma religião e uma política. Hoje, Portugal é uma sociedade plural. Primeiro a emigração e o turismo, depois a democracia, finalmente os imigrantes estrangeiros, fizeram de Portugal uma sociedade aberta. Falam-se todas as línguas, reza-se a todos os deuses, há todas as convicções políticas. Os Portugueses aprendem a viver com os outros.

Vídeo do 5º programa - Cidadãos
Com a sociedade aberta, a democracia, a integração europeia e o crescimento económico, os Portugueses são hoje cidadãos plenos pela primeira vez na sua história. Têm os direitos políticos e sociais e as respectivas garantias. As mulheres são iguais aos homens. Mas a justiça, que deveria acompanhar este progresso e adaptar-se à nova sociedade, tem dificuldades em garantir os direitos dos cidadãos.

Vídeo do 6º programa - Igualdade e conflito: As relações sociais
As famílias portuguesas têm hoje mais rendimentos e mais conforto. Em vinte ou trinta anos, o bem-estar melhorou mais que nos cem anteriores. Cresceram as classes médias. Desenvolveu-se a sociedade de consumo de massas. O comércio, as modas, a escola, a televisão e a cultura fazem uma sociedade onde todos parecem iguais. Mas subsistem diferenças muito importantes de classes, de poder económico, de geração, de sexo e de região.

Vídeo do 7º programa - Um país como os outros: A formação de uma sociedade europeia
Portugal já não se distingue, na Europa, como o país da ditadura, da pobreza e do analfabetismo. Embora ainda atrasado, os Portugueses são hoje cidadãos livres e têm acesso aos grandes serviços do Estado de Protecção Social. A educação, a segurança social e a saúde são para todos. Mas ainda há insuficiências, corrupção e desperdício. E deficiências na saúde, na educação, na segurança social e na justiça.

terça-feira, 1 de março de 2011

CONSUMO COMPULSIVO E DESUMANO

Consumo Obrigatório: 'Onde antes a posição social era marcada pelo lugar no processo de produção (...) hoje é marcada pelo lugar no processo de consumo’.(Breedveld en Van den Broek, 2003)

Falamos muito em consumismo. Eu diria que somos quase obrigados a consumir. São mecanismos de marketing a que é difícil resistir. Mesmo os consumidores mais críticos têm dificuldade. Publicidade e modas, trends de última hora. Apelativos.
Fastfood em vez de slowfood, o bestseller em detrimento do livro comum, produtos transgénicos em vez de produtos biológicos.
Dilemas e escolhas difíceis versus publicidade enganosa, publicidade contraditória, crédito desenfreado, cartões de crédito à descrição. Tudo em prol do consumo.
Consumimos e consomem-nos. É um ciclo vicioso, difícil de quebrar.
Tudo se massificou e perdeu-se o sentido crítico de selecção da geração dos nossos pais.
Desde os anos 90 que a cultura é a morte das diferenças: uma reacção ao mundo globalizado e uniformizado. O consumo passou a ser uma necessidade de existência: Eu consumo, logo existo.
Deixamos de pensar, passamos a consumir.
Os mecanismos de marketing são fortes (mecanizados, tematizados, etc.) e dirigidos para conduzir os mais desprevenidos. Ficamos confusos com tanta informação/ desinformação que deixamos nos guiem. ‘Seja o que Deus quiser!’
Estamos saturados: temos muitas escolhas para fazer: férias, cursos, desportos, colecções de roupa, de perfumes, gastronomia de todo o mundo, etc.
É preciso novamente reaprender a gerir o dinheiro, as necessidades, a existência e a precaver o futuro. Uma necessidade gritante.

ESPAÇO FAMILIAR
Não há hierarquias, somos todos iguais. Hoje em dia até o modelo de família tem de ser moderno e estar na moda. Há quem pretenda a não existência de hierarquias no seio familiar. Os pais passaram a amigos dos filhos em vez de pais dessas crianças e jovens. Isso é serem ‘modernos’.Os valores já não se passavam dos pais para os filhos!
Supostamente os pais não fumam charros e apanham pielas com os filhos, mas já se vestem como eles.
As discotecas começam às onze da noite e vão até às 4 / 5 horas da manhã. E cada vez mais crianças de 12 anos circulam livremente e desenfreadamente por esses locais a noite toda. É como se de um défice de atenção colectivo se tratasse. Os pais acham tudo bem, e até nem se importam em saber onde é que os filhos vão dormir.
O mais assustador é que ninguém se questiona sobre o que se está a passar.
Os pais são permissivos e as crianças mimadas. Os pais não sabem marcar limites, falar com os jovens e estabelecer um diálogo entre gerações.
As tradições estão fora de moda, as conversas e actividades em família não são uma prioridade (excepto ir ao centro comercial), as discussões filosóficas não são úteis.
As televisões entram pela casa adentro e é comum haver mais do que um televisor por habitação. Os pais deixaram de levar as crianças para brincar ao ar livre e enterram-nas atrás dos ecrãs das televisões e dos jogos das playstations. A dieta mental das crianças são jogos de computador, desenhos animados e brinquedos de plástico. Não se estimula a leitura, a reflexão.
A cultura do consumismo corta a relação social com a família. Quem tem família e amigos não consome tanto. Longe da família e amigos consumimos tudo, tudo tem de ser pago.
A falsa moralidade onde a pornografia se vende, mas a educação sexual não.
Confunde-se liberdade com libertinagem. Confunde-se liberdade de expressão com grosseria e ser ofensivo. Confunde-se respeito com indiferença.
A inveja e a falsidade são formas de estar.
Tudo é possível desde que a lei o permita ou seja possível contornar. Há falta de senso comum. Há gostos para tudo!

ESPAÇO MENTAL / ESPIRITUAL
Mentalmente somos moldados. Os juízos são apressados, os pensamentos são tacanhos, estereotipados, sem conteúdo etc. Toda a gente tem opinião sobre tudo. Todos sabemos que Bin Laden é terrorista mas ninguém desconfia porquê.
A imprensa não informa, reproduz, desinforma e molda a opinião pública. A informação é feita pela guerra das audiências, pela informação sexy que nos tenta seduzir, manipular, chocar e agredir. Actualmente estamos em permanente contacto com a informação, tudo acontece muito depressa, tão depressa que às vezes nos falta tempo para sonhar, para reflectir e pensar pelas nossas cabeças sem sermos manipulados por ideias feitas, dogmas etc.

ESPAÇO PÚBLICO
Os espaços públicos são tristes, moldados pelo vazio, superficial e supérfluo.
O espaço público, o jardim, tornou-se espaço privado, o condomínio. O espaço que era colectivo, tornou-se individual. Uma fronteira entre ricos e pobres.
Arquitectos e planeadores constroem bairros que são conjuntos de monolíticos de cimento. Não planeiam espaços verdes e jardins infantis. Também, aqui, os edifícios são construídos para um período e não para uma vida. Diria, espaços descartáveis, sem alma.
Nas viagens temos o ar condicionado e a televisão ligados, mas deixamos de respirar o ar puro e contemplar a paisagem que nos cerca.
Nas escolas a concorrência de quem tem as coisas mais topo de gama é uma realidade. Pelas aparências, tudo é possível.
Nos cafés e restaurantes há plasmas ligados por todo o lado. A televisão, meio de comunicação por excelência, passa-se tudo para todos os feitios sem se questionar que cidadãos se pretende formar e que valores pretende transmitir às gerações futuras.
Há mais clubes de fãs mas menos associações de estudantes; é moderno imitar os fãs que expõe a sua vida sexual e privada como isso fosse assunto de interesse público.
Falta a praça, a agora, o espaço de reunião. As associações e os clubes têm de ter objectivos muito claros, mas os debates, as tertúlias e discussões filosóficas são perda de tempo ou são para aquele grupo de gente esquisita. Os valores colectivos deram lugar à ambição e aos valores individuais. Como diz o ditado ‘Cada um por si e Deus por todos’.

ESPAÇO LABORAL
É suposto estarmos sempre a trabalhar, a produzir mecanicamente. A produzir para as massas. O que conta é a eficiência, a produção e a concorrência. A questão é que os novos escravos são felizes se poderem consumir, comprar desenfreadamente e constantemente.
As relações de trabalho deterioram-se muitas vezes por falta de diálogo e por causa de grandes ‘egos’.

‘ESPAÇO (OU DESENVOLVIMENTO) SUSTENTÁVEL’
Será que se pode deixar tudo às leis do mercado? Será que daqui por diante vai vencer ‘a lei do mais forte’?
Que podemos fazer para travar/inverter este comportamento consumista desenfreado e criar uma sociedade realmente humana?
O consumismo desenfreado que assistimos a partir dos anos 90, não é sustentável em todas as suas facetas (ou espaços, se preferirmos). É preciso seleccionar e exigir qualidade. É preciso respeitar o produtor, o consumidor e o ambiente.
Será que perdemos a capacidade de pensar? Será que não está na hora de formar um cidadão consciente, selectivo e que sabe estabelecer prioridades? Será que o novo slogan poderá vir a ser ‘Penso, logo exijo’?
Quais as perspectivas que os jovens tem hoje? Será que a felicidade se constrói ou temos que consumir o pronto-a-vestir, pronto-a-comer, etc.? Será que estamos à espera que as coisas caiam do céu?
Será que perdemos a noção dos nossos limites e que somos permissivos a tudo?
Por fim deixo aqui um vídeo sobre a oniomania, ou seja, sobre a doença de ser viciado em compras:

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ensinando a ciência com arte - DVD

Vejam no Youtube este excelente dvd produzido por alunos da pós-graduação do Instituto de Bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publico aqui a 1ª parte. São 7 partes (as outras procurem no Youtube) e vale a pena ver todas. Espero que gostem, como eu gostei, e não se esqueçam de deixar aqui o vosso comentário.
‘A liberdade do intelecto, o amor pela verdade, a confissão da ignorância, a realidade e não a dialéctica como a verdadeira fonte fonte do conhecimento humano, a matemática e a experimentação são os únicos preceitos necessários para se conhecer qualquer coisa no mundo’.
São estes os objectivos da Accademia dei Lincei que ficaram registados no documento da sua fundação em 1603.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O véu - burka versus igualdade do género

Esta foto foi tirada pelo fotojornalista da National Geographic Thomas J. Abercrombie em 1967 na cidade de Cabul no Afeganistão.
Entre 1956 e 1994, Thomas J. Abercrombie fez 16 reportagens sobre o mundo muçulmano, conduzindo os leitores de National Geographic pela gloriosa e intricada geografia dessa região que para a maioria dos ocidentais não passa de uma terra incógnita.

Encontrei esta foto há algum tempo atrás. Gostei dela até porque em 1967 este ainda não era um assunto que estava na moda. Resolvi fazer a minha leitura.
Considero esta foto uma metáfora à liberdade: os pássaros presos na gaiola e a mulher “presa” na burka.

Apesar da foto ter sido tirada em 1967, continua contemporânea, porque ainda hoje continuamos prisioneiros de ideologias que dominam o nosso funcionamento quotidiano, o nosso posicionamento na sociedade e a forma como nos relacionarmos uns com os outros.
As ideologias do poder assemelham-se, por vezes, à religião ainda que mantenham o carácter laico. No que diz respeito à emancipação da mulher, não se demarcam claramente umas das outras, proporcionando a igualdade de oportunidades entre os géneros. Pode-se estar “presa” na burka ou transportar uma burka invisível.

Então vejamos:
O véu foi originalmente introduzido nas antigas civilizações da Pérsia e da Mesopotâmia. Mais tarde, na cultura greco-romana, quem o usava adquiria um estatuto feminino elevado. O véu assegurava uma certa dificuldade de acesso à mulher. Habitual entre as judias, tornou-se na Idade Média uma referência das damas cristãs.
O uso da burka, do niqab ou dos xador que escondem o corpo da mulher não têm como base os textos do Alcorão. Na Arábia, no século VI, o Profeta Maomé sugeria no Alcorão que se cobrissem algumas partes do corpo para mudar os costumes dos árabes, entre os quais a nudez era natural.
Dessa forma, as mulheres muçulmanas passariam a gozar da mesma dignidade das demais seguidoras de livros sagrados. O uso do véu simbolizava a elevação espiritual da condição feminina, assim como o turbante concedia aos homens a sacralização da cabeça.
O uso da burka, do niqab ou do xador veio a cair nas mãos de uma intolerância patriarcal cada vez maior, tornando-se motivo de apologia entre os fundamentalistas religiosos islamitas que continuam a ver a mulher como um ser inferior e serviçal, que representa a tentação para os homens. Para muitas o uso do véu não é mais uma necessidade para honrar a sua religião mas sim uma imposição colocada pelos mais velhos, homens e mulheres.
Até hoje, a maioria das mulheres islamitas cobrem a cabeça com um véu ou lenço. O véu islâmico que prende as mulheres torna-as invisíveis para o mundo mas não inexistentes.
As mulheres judias fundamentalistas também cobrem o seu corpo todo, com saias longas e lenços na cabeça.
O uso do véu é um hábito que se foi perdendo no ocidente pelos cristãos. Em Portugal, a obrigatoriedade da mulher cobrir a cabeça com um véu ao entrar numa igreja foi uma realidade até meados dos anos 70.

A mulher deve ter a liberdade de poder escolher a sua forma de se vestir. Existe um a relação entre a identidade (vestir) e a religião. Muitos países da Europa querem proibir o uso da burka, do niqab ou do xador, uma vez que estas indumentárias por questões de segurança ou porque aumentam a distância entre muçulmanos e não-muçulmanos e entre mulheres e homens. Quanto aos outros tipos de véus e símbolos religiosos não há razão para os proibir indiscriminadamente. A Madre Teresa também usava um véu e isso faz parte da identidade da Congregação Missionárias da Caridade.

Com burka ou sem ela, a realidade é que as mulheres por todo o mundo continuam a ser discriminadas. Isto acontece porque as mulheres estão sub-representadas nos lugares de tomada de decisão.
Serão as imposições uma forma de discriminação e submissão em sociedades dominadas por homens?
No mundo ocidental a mulher continua a ter na sociedade uma posição difícil, inferior e discriminada. Alguns dados:
- segundo dados da Unicef de 2008 é negado o direito à educação a 65 milhões de meninas e a 56 milhões de meninos
- no geral as mulheres ganham, em média, menos que os homens pelo mesmo trabalho. Na Europa ganham menos 17,6% que os homens;
- no mundo da investigação apenas 26% dos investigadores no ensino superior público Europeu são mulheres;
- as mulheres continuam a ter maior parte da responsabilidade nas tarefas domésticas e no cuidado das crianças (80%) mesmo quando trabalham fora de casa.
- as mulheres continuam a ser confrontadas com exigências de horários que dificultam a conciliação da vida profissional com a vida familiar.
- as mulheres executam mais trabalho não remunerado que os homens.
- na Holanda o partido SGP, um partido religioso ortodoxo, não aceita que as mulheres participem activamente nos seus quadros.
Poderíamos continuar a dar exemplos.
Estas e outras realidades devem ser seriamente reflectidas e alteradas quando necessário.
Há ainda muito trabalho a fazer para se alcançar que um dos objectivos do Millenium até 2015 - igualdade no género.
Estar presa e escondida por baixo de uma burka não existe só no Afeganistão ou no mundo muçulmano, mas também no mundo ocidental mesmo quando a burka é invisível.

Mas porque se continua a permitir isso?
No Ocidente onde existem leis que possibilitam a transformação dessa realidade muda muito lentamente. O que impede que exista um equilíbrio justo nas oportunidades entre homens e mulheres? Se há mais mulheres que homens no planeta o que impede que as realidades se transformem? E será que o que mudou foi favorável para a mulher?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O Último Discurso - Grande Ditador - Charles Chaplin




Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar - se possível - judeus, o gentio... negros... brancos.

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-se muito mais. A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há-de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem os homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos.

Soldados! Não batalheis pela escravidão! lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Estás em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.

sábado, 1 de janeiro de 2011

O ANO NOVO - Arnaldo Jabor

O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho.
É viver cada momento e construir a felicidade aqui e agora.
Claro que a vida prega peças.O bolo não cresce, o pneu fura, chove demais
(Perdemos pessoas que amamos)...
Mas, pensa só: Tem graça viver sem rir de gargalhar, pelo menos uma vez ao dia?
Tem sentido estragar o dia por causa de uma discussão na ida pro trabalho?
Eu quero viver bem... e você?
2010 foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas, mas também de problemas e
desilusões, tristezas, perdas, reencontros
Normal...as vezes, se espera demais. A grana que não veio, o amigo que
decepcionou, o amor que acabou.
Normal...2011 não vai ser diferente. Muda o século, o milênio muda, mas o
homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem
sempre é a que a gente deseja,mas, e aí? Fazer o quê?
Acabar com o seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?
O que eu desejo para todos nós é sabedoria.E que todos nós saibamos
transformar tudo em uma boa experiência.
O nosso desejo não se realizou? Beleza...Não estava na hora, não deveria
ser a melhor coisa para esse momento (me lembro sempre de uma frase que
ouvi e adoro: ("cuidado com seus desejos, eles podem se tornar
realidade").
Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano...
Mas, se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com
generosidade, as coisas ficam diferentes.
Desejo para todo mundo esse olhar especial!
2011 pode ser um ano especial, se nosso olhar for diferente.
Pode ser muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos e dermos a volta nisso.
Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro.
2011 pode ser o bicho, o máximo, maravilhoso, lindo, especial!
Depende de mim... de você.
Pode ser... e que seja!

O Ano Novo - Arnaldo Jabor
(Adaptado a 2010-2011)