quinta-feira, 10 de março de 2011

Vídeo: 'Retrato Social de Portugal' de António Barreto.

São 7 episódios que tencionam retratar a sociedade portuguesa contemporânea. O autor António Barreto (sociólogo) tentou responder as perguntas mais simples. Quem somos? Onde vivemos? Como trabalhamos? Que saúde, que educação e que justiça temos? e conseguiu criar materiais fundamentais para compreender um pouco melhor o Portugal de hoje.
Para isso, o autor recorreu à comparação com o que Portugal era há três ou quatro décadas e sublinhou especialmente as grandes mudanças ocorridas desde então. É o mesmo país, mas os portugueses já não são os mesmos.

Vídeo do 1º programa - Gente diferente: Quem somos, quantos somos e onde vivemos?
Os portugueses são hoje muito diferentes do que eram há trinta anos. Vivem e trabalham de outro modo. Mas sentem pertencer ao mesmo país dos nossos avós. É o resultado da história e da memória que cria um património comum. Nascem em melhores condições, mas nascem menos. Vivem mais tempo. Têm famílias mais pequenas. Os idosos vivem cada vez mais sós.

Vídeo do 2º programa - Ganhar o pão: O que fazemos
O trabalho mudou muito nestas últimas décadas. A maioria dos portugueses trabalha nos serviços. Poucos trabalham na agricultura e ainda menos nas pescas. Muitos emigraram. As mulheres são metade das pessoas que trabalham, o que é uma grande diferença com o passado recente. Com a integração europeia, a economia portuguesa fez uma grande mudança. Todos vivem melhor, mas há muitas empresas que não conseguiram adaptar-se às novas condições

Vídeo do 3º programa - Mudar de vida: O fim da sociedade rural
A sociedade contemporânea, urbana, era ainda há pouco tempo rural. Mudou muito depressa. Muitos portugueses emigraram, a maior parte saiu das aldeias e foi viver para as cidades e para o litoral. O campo está despovoado. As cidades cresceram. As estradas aproximaram as regiões. Nas áreas metropolitanas, organizou-se uma nova vida quotidiana. Há mais conforto dentro das casas, mas as condições de vida nas cidades são difíceis.

Vídeo do 4º programa - Nós e os outros: Uma sociedade plural
Há quarenta anos, havia só um povo, uma etnia, uma língua, uma cultura, uma religião e uma política. Hoje, Portugal é uma sociedade plural. Primeiro a emigração e o turismo, depois a democracia, finalmente os imigrantes estrangeiros, fizeram de Portugal uma sociedade aberta. Falam-se todas as línguas, reza-se a todos os deuses, há todas as convicções políticas. Os Portugueses aprendem a viver com os outros.

Vídeo do 5º programa - Cidadãos
Com a sociedade aberta, a democracia, a integração europeia e o crescimento económico, os Portugueses são hoje cidadãos plenos pela primeira vez na sua história. Têm os direitos políticos e sociais e as respectivas garantias. As mulheres são iguais aos homens. Mas a justiça, que deveria acompanhar este progresso e adaptar-se à nova sociedade, tem dificuldades em garantir os direitos dos cidadãos.

Vídeo do 6º programa - Igualdade e conflito: As relações sociais
As famílias portuguesas têm hoje mais rendimentos e mais conforto. Em vinte ou trinta anos, o bem-estar melhorou mais que nos cem anteriores. Cresceram as classes médias. Desenvolveu-se a sociedade de consumo de massas. O comércio, as modas, a escola, a televisão e a cultura fazem uma sociedade onde todos parecem iguais. Mas subsistem diferenças muito importantes de classes, de poder económico, de geração, de sexo e de região.

Vídeo do 7º programa - Um país como os outros: A formação de uma sociedade europeia
Portugal já não se distingue, na Europa, como o país da ditadura, da pobreza e do analfabetismo. Embora ainda atrasado, os Portugueses são hoje cidadãos livres e têm acesso aos grandes serviços do Estado de Protecção Social. A educação, a segurança social e a saúde são para todos. Mas ainda há insuficiências, corrupção e desperdício. E deficiências na saúde, na educação, na segurança social e na justiça.

terça-feira, 1 de março de 2011

CONSUMO COMPULSIVO E DESUMANO

Consumo Obrigatório: 'Onde antes a posição social era marcada pelo lugar no processo de produção (...) hoje é marcada pelo lugar no processo de consumo’.(Breedveld en Van den Broek, 2003)

Falamos muito em consumismo. Eu diria que somos quase obrigados a consumir. São mecanismos de marketing a que é difícil resistir. Mesmo os consumidores mais críticos têm dificuldade. Publicidade e modas, trends de última hora. Apelativos.
Fastfood em vez de slowfood, o bestseller em detrimento do livro comum, produtos transgénicos em vez de produtos biológicos.
Dilemas e escolhas difíceis versus publicidade enganosa, publicidade contraditória, crédito desenfreado, cartões de crédito à descrição. Tudo em prol do consumo.
Consumimos e consomem-nos. É um ciclo vicioso, difícil de quebrar.
Tudo se massificou e perdeu-se o sentido crítico de selecção da geração dos nossos pais.
Desde os anos 90 que a cultura é a morte das diferenças: uma reacção ao mundo globalizado e uniformizado. O consumo passou a ser uma necessidade de existência: Eu consumo, logo existo.
Deixamos de pensar, passamos a consumir.
Os mecanismos de marketing são fortes (mecanizados, tematizados, etc.) e dirigidos para conduzir os mais desprevenidos. Ficamos confusos com tanta informação/ desinformação que deixamos nos guiem. ‘Seja o que Deus quiser!’
Estamos saturados: temos muitas escolhas para fazer: férias, cursos, desportos, colecções de roupa, de perfumes, gastronomia de todo o mundo, etc.
É preciso novamente reaprender a gerir o dinheiro, as necessidades, a existência e a precaver o futuro. Uma necessidade gritante.

ESPAÇO FAMILIAR
Não há hierarquias, somos todos iguais. Hoje em dia até o modelo de família tem de ser moderno e estar na moda. Há quem pretenda a não existência de hierarquias no seio familiar. Os pais passaram a amigos dos filhos em vez de pais dessas crianças e jovens. Isso é serem ‘modernos’.Os valores já não se passavam dos pais para os filhos!
Supostamente os pais não fumam charros e apanham pielas com os filhos, mas já se vestem como eles.
As discotecas começam às onze da noite e vão até às 4 / 5 horas da manhã. E cada vez mais crianças de 12 anos circulam livremente e desenfreadamente por esses locais a noite toda. É como se de um défice de atenção colectivo se tratasse. Os pais acham tudo bem, e até nem se importam em saber onde é que os filhos vão dormir.
O mais assustador é que ninguém se questiona sobre o que se está a passar.
Os pais são permissivos e as crianças mimadas. Os pais não sabem marcar limites, falar com os jovens e estabelecer um diálogo entre gerações.
As tradições estão fora de moda, as conversas e actividades em família não são uma prioridade (excepto ir ao centro comercial), as discussões filosóficas não são úteis.
As televisões entram pela casa adentro e é comum haver mais do que um televisor por habitação. Os pais deixaram de levar as crianças para brincar ao ar livre e enterram-nas atrás dos ecrãs das televisões e dos jogos das playstations. A dieta mental das crianças são jogos de computador, desenhos animados e brinquedos de plástico. Não se estimula a leitura, a reflexão.
A cultura do consumismo corta a relação social com a família. Quem tem família e amigos não consome tanto. Longe da família e amigos consumimos tudo, tudo tem de ser pago.
A falsa moralidade onde a pornografia se vende, mas a educação sexual não.
Confunde-se liberdade com libertinagem. Confunde-se liberdade de expressão com grosseria e ser ofensivo. Confunde-se respeito com indiferença.
A inveja e a falsidade são formas de estar.
Tudo é possível desde que a lei o permita ou seja possível contornar. Há falta de senso comum. Há gostos para tudo!

ESPAÇO MENTAL / ESPIRITUAL
Mentalmente somos moldados. Os juízos são apressados, os pensamentos são tacanhos, estereotipados, sem conteúdo etc. Toda a gente tem opinião sobre tudo. Todos sabemos que Bin Laden é terrorista mas ninguém desconfia porquê.
A imprensa não informa, reproduz, desinforma e molda a opinião pública. A informação é feita pela guerra das audiências, pela informação sexy que nos tenta seduzir, manipular, chocar e agredir. Actualmente estamos em permanente contacto com a informação, tudo acontece muito depressa, tão depressa que às vezes nos falta tempo para sonhar, para reflectir e pensar pelas nossas cabeças sem sermos manipulados por ideias feitas, dogmas etc.

ESPAÇO PÚBLICO
Os espaços públicos são tristes, moldados pelo vazio, superficial e supérfluo.
O espaço público, o jardim, tornou-se espaço privado, o condomínio. O espaço que era colectivo, tornou-se individual. Uma fronteira entre ricos e pobres.
Arquitectos e planeadores constroem bairros que são conjuntos de monolíticos de cimento. Não planeiam espaços verdes e jardins infantis. Também, aqui, os edifícios são construídos para um período e não para uma vida. Diria, espaços descartáveis, sem alma.
Nas viagens temos o ar condicionado e a televisão ligados, mas deixamos de respirar o ar puro e contemplar a paisagem que nos cerca.
Nas escolas a concorrência de quem tem as coisas mais topo de gama é uma realidade. Pelas aparências, tudo é possível.
Nos cafés e restaurantes há plasmas ligados por todo o lado. A televisão, meio de comunicação por excelência, passa-se tudo para todos os feitios sem se questionar que cidadãos se pretende formar e que valores pretende transmitir às gerações futuras.
Há mais clubes de fãs mas menos associações de estudantes; é moderno imitar os fãs que expõe a sua vida sexual e privada como isso fosse assunto de interesse público.
Falta a praça, a agora, o espaço de reunião. As associações e os clubes têm de ter objectivos muito claros, mas os debates, as tertúlias e discussões filosóficas são perda de tempo ou são para aquele grupo de gente esquisita. Os valores colectivos deram lugar à ambição e aos valores individuais. Como diz o ditado ‘Cada um por si e Deus por todos’.

ESPAÇO LABORAL
É suposto estarmos sempre a trabalhar, a produzir mecanicamente. A produzir para as massas. O que conta é a eficiência, a produção e a concorrência. A questão é que os novos escravos são felizes se poderem consumir, comprar desenfreadamente e constantemente.
As relações de trabalho deterioram-se muitas vezes por falta de diálogo e por causa de grandes ‘egos’.

‘ESPAÇO (OU DESENVOLVIMENTO) SUSTENTÁVEL’
Será que se pode deixar tudo às leis do mercado? Será que daqui por diante vai vencer ‘a lei do mais forte’?
Que podemos fazer para travar/inverter este comportamento consumista desenfreado e criar uma sociedade realmente humana?
O consumismo desenfreado que assistimos a partir dos anos 90, não é sustentável em todas as suas facetas (ou espaços, se preferirmos). É preciso seleccionar e exigir qualidade. É preciso respeitar o produtor, o consumidor e o ambiente.
Será que perdemos a capacidade de pensar? Será que não está na hora de formar um cidadão consciente, selectivo e que sabe estabelecer prioridades? Será que o novo slogan poderá vir a ser ‘Penso, logo exijo’?
Quais as perspectivas que os jovens tem hoje? Será que a felicidade se constrói ou temos que consumir o pronto-a-vestir, pronto-a-comer, etc.? Será que estamos à espera que as coisas caiam do céu?
Será que perdemos a noção dos nossos limites e que somos permissivos a tudo?
Por fim deixo aqui um vídeo sobre a oniomania, ou seja, sobre a doença de ser viciado em compras: