O chapéu prateado do coreto resplandecia no céu duvidoso, algodoado, já outonal... e nem uma nota de música: nem concerto, nem trovoada.
E eu já nem pedia música de embalar porque embalados andamos nós todos, mas uma tempestade de ruídos ou de cor que agredisse os sentidos e as consciências.
Prendo os olhos no chão e é a mesma chita de beatas e insectos, cordões de sapatos por atar e cifrões, tudo cifrões...
E o coreto é uma construção, gaiola airosa à espera da passarada, à mercê da ferrugem neste pequeno jardim citadino onde não falta a estátua do poeta de quem nunca ninguém leu versos, e que ali continua teimosamente, imbecilmente, em pedra. Ah a fuga, a fuga urgente e inadiável. E agarro-me ao papel com a fúria de quem quer partir. Sim, porque este mundo de sonâmbulos e lampiões cansa, desespera.
Se ao menos o cata-vento fendesse o céu... Mas não, continua doidejando lá no alvo... e nada acontece.
Apenas um moço cara-de-cristo, de narinas levantadas, se abeira de mim. Quer adivinhar-me os pensamentos ou descobrir-me a cor dos olhos?
Ainda sonha, com princesas encantadas... E avança: «Tens lume?»
-Tenho!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário