sexta-feira, 4 de abril de 2008

Amor & Fadas do lar

Depois de ter escrito sobre o ‘Elogio ao amor’ e ‘Sexo versus pornografia’ surgiram comentários: amor, eterno ou não?; porque é que já não se acredita que o amor possa durar a vida inteira?

Pensei: Porque é que aparentemente o amor durava mais antigamente?

No amor, o mistério desaparece à medida que a intimidade progride. Para durar, deve ser cuidado e cultivado.

Pensando em termos de antes e depois, noto o seguinte:

As pessoas casam-se menos, divorciam-se mais. O próprio sistema jurídico, nas sociedades ocidentais, facilita o divórcio. É mas fácil descartar (aliás, como tudo o resto numa sociedade de consumo). Os factores sociológicos e económicos que contribuem para este fenómeno, são a secularização da sociedade (as pessoas já não estão juntas até que a morte os separe) e a independência económica da mulher.

Históricamente, quando as pessoas começaram a fixar-se, os homens iam à caça enquanto as mulheres cultivavam a terra. Com a industrialização, os conflitos entre os homens e mulheres aumentaram. E porquê?

Porque as mulheres apreenderam a pensar mais nelas (já não são domésticas e muito menos fadas do lar!). Os homens (salvo raras excepções) não deixaram de pensar só neles.

Nas sociedades onde os valores individuais são mais fortes que os valores colectivos, ‘o outro’ perde um pouco o significado. Vivemos centrados em nós (eu, comigo e para mim), e sabemos que não podemos apoiarmo-nos nos outros. E aí começa o ciclo vicioso e a desarmonia. Vivemos sós.

No entanto, penso que as mulheres têm vivências mais colectivistas.

Enquanto, os homens deixam as mulheres sozinhas com os filhos e vão para a tasca, para o campo de futebol, etc., as mulheres olham para as necessidades dos filhos, marido, família e comunidade. As mulheres são o pilar das sociedades, trabalham como escravas e são mal pagas. Dum modo geral, são elas que conciliam o trabalho de casa com o emprego. E para dificultar a vida, as mulheres estão mal representadas a nível dos órgãos decisivos.

Nota: Concordo com o Prémio Nobel da Economia de 2006, Muhammad Yunus, que dizia numa entrevista conceder de preferência um microcrédito a uma mulher do que a um homem, porque as mulheres pensavam mais nos outros do que nelas próprias. Não gastam dinheiro com elas mas com a educação dos filhos etc.

Resolvi ilustrar esta mensagem com uma peça da escultora Joana Vasconcelos. Ela tem uma noção de expressão artística muito feminina: aproveitar coisas vulgares para fazer coisas extraordinárias! Esta escultura chama-se Cinderela tem 5 metros de altura. É feita com tampas e panelas. Será que uma Cinderela resolveu polir estas panelas todas, ou é apenas reflexo da luz? Esta foto foi tirada no verão, nos jardins do Palácio de Belém. Os holandeses poderiam chamar keukenprinces, isto é, princesa da cozinha.

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Achei interessante a tua leitura muito ampla do tema, mas... será que é mesmo só isso?
Tenho as minhas dúvidas.
Os casamentos, como casamentos de papel passado nunca foram sempre por amor mas sim um contrato onde a noiva era parte do dote e do acordo político e económico.
Claro que a visão da mulher como figura de segundo plano foi acentuada pelo cristianismo claramente masculino, para se sobrepor aos cultos, chamados pagãos onde as Deusas proliferavam e detinham uma função de relevo. Estavam sempre relacionadas com a mãe-Natureza, e ciclos de vida e sustentabilidade, o necessário para a existência.
O casamento tal como o conhecemos hoje, para todos e uma escolha, foi acentuadamente e amplamente introduzido no século XIX com o romantismo e as questões das morais religiosas. O amor começa a ser cantado e escrito numa versão feminina, como uma coisa de mulheres, frágil, idilico. Os casamentos duravam "até que a morte os separe"porque não havia alternativa. A mulher era totalmente e plenamente dependente do homem, do homem que ela nem tinha escolhido para marido mas que tinha sido dada para casamento por acordos entre familias. O marido podia fazer o que muito bem entendia com ela. Era uma posse, e por isso sem nunca ter nada a dizer.
O século XX e sobretudo as grandes guerras introduziram no mundo ocidental alterações. As mulheres tiveram mesmo que trabalhar fora porque os homens ou estavam na guerra ou tinham morrido. O governo e a sustentabilidade da familia que sempre a cargo da mulher mas de uma forma silenciosa, quase clandestina, mudou pelas necessidades.
E com isso mudou muita coisa. Em muitos países o divórcio continua a não existir porque o peso religioso é muito.
No entanto, se a mulher trabalha, tem a responsabilidade dos filhos para o resto da vida (os maridos andam por ai,têm vidas próprias, paralelas, podem se ir embora,etc), têm o governo e responsabilidade da casa e da sustentibilidade da família e, tornou-se independente financeiramente do homem, também não se sente mais obrigada a suportar situações insustentáveis e desrespeitosas. E mesmo assim continuam a ser maltratadas. Daí que se note agora que há mais divórcios. Mas se forem observar, quem o pede é a mulher, maioritariamente. O homem acomoda-se com vidas duplas, triplas, ou no ambiente morto de sentimentos.
E fica profundamente afectado se for ela que não o quer mais.
O amor é algo que está no meio desse contrato de vida, mas que não é infinito. E sobretdo necessita de se reinventar a toda a hora, de ser regado, cultivado, renascer permanentemente, criar raizes de amizade,respeito, companheirismo,confiança e lealdade.
Homem é o membro mais desatento do par, mas mulher também não investe mais tanto na relação porque está hiper sobrecarregada.
Nestas circunstâncias nem tempo tem para pensar nela e quando tenta descobre que é infeliz e que se calhar é tarde demais para refazer alguma coisa. E ou se separa, ou vivem infelizes para sempre.
As fadas do lar eram quase sempre infelizes, obrigadas a estar ao serviço de e isso ia-se transformando em doenças, grande fonte de rendinento dos médicos, sobretudo dos portugueses.
Todos querem viver um amor, mas poucos investem seja o que for na existencia e perpetuação dele. E essa tarefa é a dois, senão tem morte garantida.

Ivone disse...

O teu comentário alarga a visão sobre as Fadas do Lar. Sim os casamentos eram, na maior parte das vezes, contratos de conveniência.
Reinventemos o amor!, senão seremos infelizes até que a morte nos separe.

Anônimo disse...

Ou então, divorciam-se e são felizes sozinhos. Ou... meio felizes!!
E ser "felizes sozinhos" não quer dizer que se esteja sozinho, porque há, felizmente, os amigos.

JOSÉ disse...

Está tudo bem explicado e analisado, mas eu continuo a pensar que é difícil compreender e explicar o amor, talvez até seja fútil, seria melhor ouvir a voz do coração, aceitá-lo e vivê-lo.
Cada pessoa sente de maneira diferente, mas o verdadeiro amor é quando se pode dizer “gosto daquela pessoa APESAR de...” em vez de dizer “gosto daquela pessoa PORQUE ...”
Isto de emoções é muito complicado e também há o perigo de se entrar em generalizações. De qualquer modo, acho que estes temas deveriam ser debatidos até à exaustão. O mais importante na vida é o amor e a paixão, tudo o resto é periferia. Devaneio meu?